Após um mês da posse de Luís Inácio Lula da Silva, para o segundo mandato como presidente da República Federativa do Brasil, permito-me a tecer um breve comentário sobre o que esperar deste segundo governo Lula.
O que se espera (e o que o presidente tem deonstrado), é um governo mais ousado com relação às expectativas de crescimento económico, e ao mesmo tempo mais firme no que diz respeito às políticas sociais. Aliás, estas últimas constituem a marca registrada do primeiro governo Lula, e o que de facto o diferenciou do governo anterior. A política económica do primeiro governo Lula foi por demais conservadora, enquanto esteve sob o comando de António Palocci, no ministério da Fazenda. Seguiu à risca a cartilha do FMI, sem contudo, recorrer novamente àquele organismo. Uma vez que conseguiu consolidar o superávit primário, manter o câmbio estabilizado e o risco país nos patamares mais baixos. Enfim, tudo que um governo de esquerda em um campo minado como a América Latina, precisava para ganhar a confiança dos investidores. Ou seja, manter a estabilidade financeira, o cumprimento dos contratos e mostrar que não seria um factor de instabilidade na região.
Todavia a "era Palocci", foi demasiado ortodoxa e inibiu o "espetáculo do crescimento" para usar uma das metáforas de Lula. O crescimento da economia brasileira foi pífio nos primeiros quatro anos de governo petista. Mas como era de se esparar de um governo de esquerda, sua política social fez mais que todos os outros governos anteriores, incluíndo-se aí os oito anos do "príncipe dos sociólogos", Fernando Henrique Cardoso.
O certo é que os programas sociais, como o Bolsa Família, Luz no Campo, Pronaf (voltado para agricultura familiar), ProUni e outros, contribuíram para melhorar a vida de grande parcela da população brasileira que sempre viveu à margem da sociedade. Para alguns politólogos, sociólogos e outros ólogos, isto explica o êxito eleitoral de Lula na reeleição.
Mas, o que interessa-nos aqui é o segundo mandato que já começou há um mês. No comando da economia está o ítalo-brasileiro Guido Mantega, um dos últimos desenvolvimentistas, da escola de Celso Furtado. Mantega sempre foi um crítico da política económica ortodoxa de Palocci, e sempre defendeu a idéia de que o país pode crescer mais sem que isto represente maiores riscos para a estabilidade, ou que represente a volta da inflação. Uma das primeiras medidas do segundo governo Lula foi o anúncio do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), um plano que inclui tanto apoio à iniciativa privada, como parceria com os estados em obras de infra-estrutura, necessárias ao crescimento do país. Embora o Pac já tenha sido rotulado de tímido por alguns sectores da sociedades e críticos do governo, representa um indicativo de que os próximos quatro anos não serão amarrados pela preocupação excessiva em acalmar os mercados e descuidar do crescimento.
Todavia, o crescimento económico deve vir acompanhado do crescimento social. Já tivemos um período de crescimento em torno de 10% ao ano, no qual os burocratas afirmavam que era necessário "fazer crescer o bolo para depois deivií-lo" e que resultou em duas décadas perdidas (1980 e 1980), das quais o país ainda estar a recuperar-se. O bolo cresceu muito mas foi dividido em fatias desiguais. Para a maioria da população nem sequer chegaram as migalhas.
É justamente para esta parcela de brasileiros que ainda não teve direito à sua fatia do bolo que, o compromisso do governo Lula tem que ser fazer o país crescer, mas um crescimento acompanhado de, além da propalada "responsabilidade fiscal", sobretudo da responsabilidade social.
Espera-se e o governo já dá sinais neste sentido, que seja um governo mais forte políticamente, comprometido com 0 crescimento económico e com o desenvolvimento social.
Em outra oportunidade voltarei a escrever sobre este assunto.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
O que esperar do segundo governo Lula?
Posted by Anónimo at 14:27
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1 comments:
Oxalá os deuses te oiçam e o governo brasileiro seja mais progressista.
Quanto à questão das políticas sociais serem mais robustas do lado de governos de esquerda (ou de centro-esquerda, no caso), é um bom tema de reflexão.
Fiquei curioso por saber também qual o teu balanço da política cultural, ainda por cima liderada agora por um grande figura da cultura lusófona.
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