sexta-feira, 4 de maio de 2007

C'est sure qu'on ne va pas s'ennuyer!

"plutôt la barbarie que l'ennui", é lindissima a citação de Théophile Gaultier que nos trouxe a vallera (ali mais abaixo, via George Steiner). Não sei se a vallera estava a pensar nas eleições francesas, mas "l'ennui" faz-me pensar em Chirac.

Pois caro Hugo, se Sarkozy ganhar como é mais que certo que ganhe acho que não vamos ter propriamente uma presidência à Chirac. Se Sarkozy ganhar como é mais que certo que ganhe, ninguém pode dizer que não sabia ao que vinha. Pelo modo com decorreu a campanha eleitoral ficou bem claro para todos o que está em jogo. Ficou bem claro, sobretudo depois do debate de quarta-feira, em que consistem os dois projectos que se apresentam à segunda volta das eleições, e as diferenças entre eles. Se Sarkozy ganhar é porque os franceses o querem, é assim a democracia. Claro que podemos sempre questionar a democracia, e devemos. A democracia é tão questionável como outra coisa qualquer.

Pois caro Hugo, se a contestação é boa ou má? Muitas das grandes conquistas da democracia conseguiram-se na rua, não nas urnas. Na história francesa não há muitos bons exemplos de movimentos reformistas vindos de dentro do sistema político. Já mudanças progressistas profundas como consequência de revoluções ou de convulsões sociais há uns quantos.

Sarkozy vai ser eleito, é quase certo. Podemos começar a contar os dias até rebentar o primeiro movimento de contestação. A única dúvida é saber se vão ser os sindicatos, as banlieues, os sans-papiers, os investigadores, os estudantes, ou...

1 comments:

vallera disse...

Concordo contigo quando dizes que "muitas das grandes conquistas da democracia se conseguiram na rua". Mas também concordo com o Hugo e a sua ideia da diplomacia entre as várias forças que se contestam. Parece-me é que quando a diplomacia falha, então temos de ir para a rua (mas dando uma oportunidade à via diplomática). Creio que aí em Paris não vai haver ennui de certeza!
quanto ao ennui de que eu falava no post, não tinha nada que ver com as eleições francesas. Tinha mais que ver com os desacatos do dia do 25 de Abril. Aquilo fez-me confusão. Não percebi bem o que se passou, nem percebi bem o que se disse sobre isso. Pareceu-me que talvez não houvesse ali nenhuma ideologia definida por detrás, ao contrário do que se disse. E se não havia ideologia definida, então isso não tem que ser criticado. O punk, por exemplo, teve a sua maior força quando não estava definido, quando ainda era impossível defini-lo, e é nessa impossibilidade de definição que reside a sua força.