Os filmes que nunca verei

Sempre que se inicia um festival internacional de cinema - hoje começa o 57º Festival de Cinema de Berlim - penso, com tristeza, nos filmes que nunca verei, ou que vou ter de esperar dois anos para ver. A distribuição para as salas portuguesas é indescritível, sobretudo no que diz respeito a cinema europeu, já que todas as comédias boçais norte-americanas estreiam em várias salas e ficamos, então, com a hipótese de ver histórias ao estilo «O Rei dos Gazeteiros» e, claro, grandiosos blockbusters como o «Spiderman 351», em que o super-herói ganha uma densidade psicológica nunca antes vista (e estreia já em Maio!). E isto é pobre, pouco e mau.

Compreendo que as empresas tenham fins estritamente comerciais, mas penso que em relação aos filmes europeus os canais podiam ser outros e, entre tantos Institutos de/para o Audiovisual existentes na União Europeia, era capaz de não ser muito difícil encontrar uma solução, desde que a prioridade fosse a de dar visibilidade aos filmes. Acresce ainda, o facto de em Lisboa termos, pelo menos, um sala-fantasma que é o cinema S. Jorge, local mais do que apropriado a este género de programação.

Já este ano, foram, também, entregues os Prémios Goya, para o cinema espanhol, dos quais ainda só conseguimos ver o «Volver».

Daquilo que li sobre um e outro evento, queria nomear, com base num critério pessoal, alguns filmes que me pareceram interessantes: «Salvador» de Manuel Huerge, sobre uma das últimas vítimas do franquismo (o que desencadeou, em Lisboa, um ataque à Embaixada de Espanha); «Alastriste» de Agustin Diaz Yanes, baseado no livro de Pérez-Reverte (critérios mesmo pessoais: adoro filmes de capa e espada e este até é com o Viggo Mortensen); «Les Témoins» de André Téchiné; «La vie en rose» de François Ozon; e ainda o novo cinema alemão, aparentemente a atravessar uma fase boa, em que se destaca «Yella» de Christian Petzold.

A imagem é do (maravilhoso) fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto (1948-).