sábado, 31 de março de 2007
Aparição aos srs. engenhocas
Posted by Daniel Melo at 01:31 1 comments
Labels: aparições, cartoonista GoRRo, humor, Ota
Posfácio c/osso (II)
Posted by Daniel Melo at 00:06 0 comments
Labels: Manuel da Silva Ramos, O sol da meia-noite, sexo
sexta-feira, 30 de março de 2007
quinta-feira, 29 de março de 2007
Police par tout, Justice nul part (I)
Primeiro foram os incidentes num infantário do 19° bairro de Paris, quando Polícia resolveu prender os pais de crianças escolarizadas, imigrantes em situação irregular, à saída do infantário 20 de Março passado. No caso foi uma família chinesa, ao fim do dia quando os pais vão buscar as crianças foram interpelados pela Polícia que não hesitou em usar a força, segundo os testemunhos claramente excessiva. Gerou-se uma escaramuça quando os pais das outras crianças e responsáveis do infantário vieram em auxílio dos imigrantes detidos, a Polícia utilizou então gás lacrimogéneo atingindo inclusivamente crianças. Dois dias depois a directora do infantário chegou mesmo a ser detida por várias horas, como se fosse um delinquente. Refira-se que em França um "imigrante em situação irregular" e um "imigrante clandestino" não é a mesma coisa, e em particular imigrantes com crianças escolarizadas têm um certo número de direitos a ser respeitados. A actuação da Polícia, sobre todos os pontos de vista, é claramente excessiva.
Depois foram os tumultos na Gare du Nord terça-feira. A simples ocorrência dos tumultos é já por si só uma demonstração do falhanço da actual política de segurança. Independentemente do tipo de política posto em prática o objectivo é evitar estas situações, quando ocorrem tumultos desta natureza demonstra-se que é uma política ineficaz, não funciona. Olhando com um pouco mais de atenção vê-se que esta política é parte do problema e não da solução (volto esta questão no próximo post). Tudo começa porque um passageiro é interpelado por não ter título de transporte válido, e reage violentamente. Ocorre-me a pergunta: "Como é que da interpelação de um passageiro sem bilhete e violento se passa para tumultos generalizados?". O actual ministro do interior, François Baroin, que substituiu Sarkozy na véspera (Sarkozy deixou o cargo para se dedicar à campanha eleitoral, como se não andasse já em campanha há 5 anos) vem logo dizer que se trata de um imigrante clandestino, com mais de 20 ocorrências por violência no seu cadastro. Quando ocorreram os tumultos de 2005 iniciados pela morte de Zyed e Bouna electrocutados quando fugiam à Polícia a primeira versão oficial (não sei se alguma vez desmentida) também era que se tratava de delinquentes apanhados em flagrante, era falso afinal, Zyed e Bouna regressavam a casa depois de terem ido jogar à bola. O novo ministro está em consonância com essas velhas práticas, a primeira versão oficial é falsa, o dito passageiro em infracção não é imigrante ilegal, está em situação regular e toda a sua família tem inclusivamente cidadania francesa, e embora tenha cadastro, é muito menos grave do que diz o ministro (7 ocorrências por pequenos furtos, e a maioria com mais de 10 anos). Mas mesmo que fosse verdade, em que é que isso justifica os tumultos? A questão mantém-se, como é que a interpelação de um passageiro sem bilhete degenera em tumulto?
Posted by Zèd at 23:09 8 comments
Labels: Eleições França, imigração, Polícia, presidenciais francesas, Sarkozy, segurança
A grande beatitude (II)
Seja quem for, será teu: / Jurei-o por tua vida.
Seja ele ou rico ou pobre, / Seja fidalgo ou peão,
Desde já por genro o tomo, / E aqui lhe dou tua mão.»
"O Anjo e a Princesa"
Posted by Zèd at 07:58 0 comments
Labels: Almeida Garrett, Peão
A grande beatitude
(O sol da meia-noite seguido de contos para a juventude,
Lx., Pubs. D. Quixote, 2007, p. 145)
Posted by Daniel Melo at 00:29 0 comments
Labels: Manuel da Silva Ramos, O sol da meia-noite, peões
quarta-feira, 28 de março de 2007
Filmes, filmes, filmes
Posted by vallera at 14:22 1 comments
Labels: cinecittà, cinema, Midas, Pop culture, Russ Meyer, Vixens
Multiculturalismo (II) - Os heróis que vêm da banlieue
Lilian Thuram é "só" o jogador com mais internacionalizações da história do futebol francês, e continua aí para as curvas, depois de ser campeão mundial e europeu, ter ganho tudo na Juventus, aos 34 anos ainda joga no Barcelona e na selecção francesa. No fim-de-semana passado foi - finalmente - capitão de equipa no jogo contra Lituânia. Lilian Thuram é francês nascido nas Antilhas, mais precisamente na Guadeloupe, mas veio para a metrópole ainda com 9 anos, e começou a carreira nas camadas jovens do clube "Portugais de Fontainebleau". Mas Thuram é mais que o seu futebol, é membro do Alto Conselho para a Integração, e toma posições políticas geralmente com bastante impacto. Quando estava na ordem do dia a crise dos sans-papiers de Cachan, numa atitude simbólica ofereceu-lhes bilhetes para irem ver o jogo França - Itália (contei a história aqui), ou a seguir ao campeonato do mundo deu uma entrevista de fundo ao InRockuptibles (a provar a sua inteligência, mostra que conhece o seu público alvo) em que lançou a expressão "La Sarkoïsation des esprits", como referiu na altura o peão Hugo. Quando Thuram fala em público, Sarkozy ressente-se.
Jamel Debbouze é um comediante hilariante, é o descendente de imigrantes de sucesso, árabe nascido em Paris de família marroquina, passou até uma parte da infância em Marrocos. Começou a carreira da radio, passou para a televisão e para o cinema ("O Fabuloso destino de Amélie Poulain", "Astérix e Cleópatra", "Angel-A", etc...). O talento não é só como comediante, mas também como produtor, foi co-produtor do filme "Indigènes" nomeado para os óscares e produz vários jovens comediantes. Jamel não esquece de onde vem, e os comediantes que tem lançado vêm do mesmo meio que ele, o caldo cultural da integração francesa. O seu espectáculo mais recente "Jamel Comedy Club" é um show de "stand-up" em que participam os mais novos talentos que Jamel está a lançar, vindos das banlieues, oriundos das mais diversas origens culturais, o que o Libération chamou "Jameltting Potes" (fantástico jogo de palavras). Naturalmente a sua vivência das banlieues, e o tal caldo de cultura é um dos temas, senão o tema que mais usa para fazer humor. Outro tema é Zidane, com quem Jamel tem uma relação especial, Jamel marcou um golo no jogo contra a pobreza a passe de Zidane, e já lhe fez uma declaração de amor em cena (não é preciso perceber o que diz Jamel, veja-se a reacção do público e de Zidane). Fica aqui para amostra um vídeo em que Jamel relata um golo de Zimzou - perdão - Zizou, podem ver o referido golo no fim para comparar.
Posted by Zèd at 10:06 9 comments
Labels: cosmopolita, Debbouze, França, integração, Jamel, multiculturalismo, Thuram
Billie Holiday - Love For Sale
Uma música que decidiu escapar ao DJ Peão para acompanhar os posts da «economia» amorosa.
Posted by Sofia Rodrigues at 01:47 0 comments
O «Senhor Mais ou Menos»... (2)
Dizíamos num post anterior que Hu Shi foi o papá do «Senhor ‘cha-bu-duo’ (leia: ‘tsá-bú-dó’), isto é, do «Senhor Mais ou Menos». Mas quem era Hu Shi? E do que fala Hu Shi quando fala do «Senhor Mais ou Menos»?
Professor na Universidade de Pequim, diplomado em agricultura pela Universidade de Cornell (EUA) e doutorado em filosofia pela Universidade de Colômbia (EUA) [este percurso cosmopolita era bastante comum entre a elite chinesa de então], Hu Shi (1891-1962) foi provavelmente um dos mais influentes intelectuais chineses da primeira metade do século XX. Hoje, ele é particularmente recordado pelo seu papel de liderança em importantes movimentos culturais e políticos ocorridos logo a seguir ao colapso do velho regime imperial e à Fundação da República Chinesa em 1912, como o Movimento do Quatro de Maio ou o Movimento Nova Cultura.
A melhor maneira de ilustrar a importância destes dois movimentos reformistas [em muitos aspectos precursores da revolução Comunista de Mao] é notar que eles levariam à substituição do ‘chinês clássico’ pelo ‘chinês comum’ (isto é: o mandarim falado comum) na escrita literária, substituição essa que permitiria a qualquer falante de 'chinês comum' com uma educação básica ser capaz de ler textos literários sem grandes dificuldades. Até então, isso não era de todo possível, uma vez que o ‘chinês clássico’ (muito diferente do ‘chinês comum’) tinha de ser estudado a fundo, pelo que só era dominado por pessoas com altos níveis de educação [julgo que existem aqui alguns ecos entre estes movimentos e as ideias de pensadores liberais portugueses como Almeida Garrett].
O «Senhor Mais ou Menos» de Hu Shi surge precisamente no âmbito desta conjuntura de demandas de liberalização, e procura chamar a atenção para o facto de que mais liberdade também implica mais responsabilidade. Observando etnograficamente a realidade à sua volta (a China do início do século passado), Hu Shi nota que o dito «Senhor Mais ou Menos» - o tal que faz o seu trabalho nem bem nem mal, fá-lo mais ou menos - parece estar espalhado um pouco por todo o lado na sociedade. Hu Shi sugere mesmo que ele poderá estar profundamente enraizado na cultura popular, mas que deverá ser encarado como uma espécie de ‘doença social’ que é preciso erradicar em prole do bem comum (isto é, em prole do novo projecto chinês de modernização depois da queda do regime imperial). Para Hu Shi, esta gigantesca tarefa pedagógica deverá ser iniciada pela ‘nova’ classe intelectual e política de então, mas dependerá em última instância do trabalho sobre si próprio de cada um de nós [os paralelos com pensadores portugueses do século XIX como Adolfo Coelho são tentadores].
É provável que Hu Shi não escrevesse em 2007 o que escreveu no início do século passado pois beneficiaria do chamado ‘olhar retrospectivo sobre o passado’, um passado que inclui um século de transformações sociais radicais ao sabor de três projectos centralizados de modernização completamente diferentes: o Republicano, o Maoísta e o Pós-Maoísta. Independentemente disso, julgo que Hu Shi não me convence, nem hoje nem ontem. É que para mim o «Senhor Mais ou Menos» não é um fenómeno restrito aos ‘chineses’ ou aos ‘outros’, como Hu Shi nos faz crer, mas é um fenómeno distribuído um pouco por todos ‘nós’ seres humanos (o que me inclui a mim, a ele e a vocês). Apesar de tudo, julgo que a questão social e política que Hu Shi nos levantou no ‘longínquo início do século passado’ continua hoje a ser tão pertinente quanto perturbadora: será que devemos alimentar, vestir e adorar o «Senhor Mais ou Menos» que temos em ‘nós’, ou será que o devemos guardar para o fim de semana ou para as férias no Rio de Janeiro? Será que a decisão é mesmo só de cada um de nós? Quem paga tanto Mais-ou-Menos-ismo?
Posted by gdsantos at 01:24 3 comments
Labels: China, Hu Shi, Senhor Mais ou Menos
Posfácio c/osso
Posted by Daniel Melo at 00:28 4 comments
Labels: adágio, amor, Manuel da Silva Ramos, O sol da meia-noite, redistribuição
terça-feira, 27 de março de 2007
Escapes
Posted by vallera at 23:11 0 comments
Labels: cinema americano, keynes, macroeconomia
Pedagogia económica precisa-se
Interessante este post de António Ornelas n'O Canhoto. A resposta às questões colocadas no fim pode bem passar pela necessidade de as pessoas perceberem que os direitos sociais custam dinheiro. Isto não é um argumento contra a sua existência ou a sua generosidade - é um elemento de facto. E é com ele que temos que equilibrar as nossas inclinações normativas para saber até onde é razoável ir na reinvindição desses mesmos direitos num dado contexto económico.
Posted by Hugo Mendes at 22:46 0 comments
Labels: direitos sociais, Estado social
O bolo, as fatias, e a faca
Os tempos não estão fáceis para uma política amplamente redistributiva em Portugal. Se conseguirmos que as desigualdades entre os extremos não aumentem já é capaz de não ser mau. Mas a função pública podia dar um bom exemplo. Aliás, não sei porque é que uma prática deste género não é defendida (já nem digo posta em prática) há mais tempo: em vez de os funcionários públicos verem o seu salário sofrer um aumento indexado a um mesmo valor percentual, o Governo e os sindicatos podiam perfeitamente, para o mesmo bolo, tentar chegar a um acordo para instituir um esquema progressivo. Por exemplo, em vez de serem todos aumentados em, imagine-se, 1,5%, os "pequenos" podiam ser aumentados em 2,0% e os "grandes" em 1% (como dizia o outro, depois era fazer as contas). Será que as aristocracias sindicais aguentavam semelhante radicalismo? :)
Ou, para citar o bom do G.A.Cohen, If You're an Egalitarian, How Come You're so Rich?
Posted by Hugo Mendes at 19:16 4 comments
Labels: desigualdades sociais, G.A.Cohen, redistribuição, salários, sindicalismo
Os meios, os fins e as consequências (esperadas) da mudança no paradigma de políticas educativas
Tradução de um quadro retirado de:
Despite the Odds: The Contentious Politics of Education Reform, de Merilee Serrill Grindle (2004, Princeton University Press, p.6)
Posted by Hugo Mendes at 16:42 3 comments
Labels: educação, política educativa
Devoir de regard
«O Caimão» não é (só) um filme político. Nem apenas sobre a Itália. E como se isto tudo não bastasse, é um grande filme.
Notas sobre a necessidade de uma política económica concreta
Esperar que os níveis de qualificação subam generalizadamente para só aí introduzir as verdadeiras reformas que nos levarão à subida da produtividade, ao aumento dos salários e da riqueza nacional, parece-me insuficiente. O Hugo concebe a reforma política como uma espécie de sementeira cuja colheita levará tempo a ser colhida. Parece-me que para além deste tipo de reformas se podem apontar outras que tenham em conta a especificidade da nossa economia. Considero que se do ponto de vista paradigmático faz sentido posicionarmos perante os dois modelos económicos, já ao nível da política concreta estes tornam-se um pouco redutores e excessivamente dicotómicos. Há uma margem de intervenção política que me parece estar a ser descurada pelo Hugo.
A base produtiva da economia nacional assenta em grande medida nas PME’s. O que representa uma desvantagem em termos, por exemplo, de economia de escala, mas também pode significar uma vantagem. Na verdade, no contexto de capitalismo informacional o modelo PME pode ser muito competitivo, na medida em que as empresas são mais flexíveis e mais aptas à mudança. O problema é que a maioria das nossas empresas são retrógradas. No entanto, parte poderá incorporar algum potencial desde que enquadradas por políticas públicas nas quais o Estado pode deter um papel de mediador. O que é que o Estado pode fazer para incentivar o investimento privado particularmente nas PME’s?
1) Mais tarde ou mais cedo o governo terá que de descer os impostos, não há outra maneira de incentivar o investimento. É muito difícil as empresas competirem com as respectivas congéneres internacionais com o IVA e o IRC tão elevados.
2) É fundamental apostar na formação direccionada para as necessidades destas empresas. Aqui o governo tem um papel activo enquanto agente mediador entre a oferta dos centros e das empresas de formação e as PME’s. Em muitos casos estas estão de costas voltadas, há um verdadeiro curto-circuito entre oferta e procura.
3) É imprescindível criar parcerias efectivas entre as empresas mais modernas e as universidades de modo gerar factores competitivos de inovação. No actual estado de coisas nem as empresas, nem as universidades tomarão a iniciativa de implementar essas parcerias. É necessário proporcionar o ambiente material e institucional capaz de gerar tais sinergias de forma generalizada.
4) Muitas das políticas públicas deverão ser capazes de imergir na realidade concreta (aquilo que certo pensamento económico tem designado por embeddedness) e deter um papel potenciador ao nível da produtividade de maneira a criar condições para o bom investimento, para a formação aplicada ao contexto e para a inovação gerada pela sinergia entre diferentes parceiros organizacionais.
Tendo por base estes pontos, talvez o Hugo responda dizendo que isto já está a ser feito, ou que é intenção do governo fazê-lo, ou que é tudo uma questão de articulação e cosmética política. Mas concretamente acho que o governo ainda não foi capaz de incorporar esse papel de mediador (que é mais do que regulador), como não produziu os canais e os instrumentos necessários para o fazer devidamente. É esta perspectiva de um Estado próximo do concreto e do terreno, dando, no entanto, espaço necessário para os agentes funcionarem em autonomia, que falta à visão do Hugo. O Estado não deve só lançar as boas sementes e gerir os mínimos (sobretudo através do controlo orçamental) até que estas dêem frutos. Na minha perspectiva, o Estado deve imergir-se na economia concreta e fazer algumas enxertias de modo a que as árvores cresçam mais rapidamente e autonomamente. Estes são os traços fundamentais para uma política económica de esquerda.
Posted by Renato Carmo at 09:50 5 comments
Labels: desenvolvimento, estado, política económica
Marx on love
O post anterior do Daniel fez-me recordar saudosas linhas...
"Assume man to be man and his relationship to the world to be a human one: then you can exchange love only for love, trust for trust, etc. If you want to enjoy art, you must be an artistically cultivated person; if you want to exercise influence over other people, you must be a person with a stimulating and encouraging effect on other people. Every one of your relations to man and to nature must be a specific expression, corresponding to the object of your will, of your real individual life. If you love without evoking love in return — that is, if your loving as loving does not produce reciprocal love; if through a living expression of yourself as a loving person you do not make yourself a beloved one, then your love is impotent — a misfortune."
Karl Marx, Economic and Philosophical Manuscripts of 1844, "The Power of Money" (parágrafo final)
Posted by Hugo Mendes at 01:02 1 comments
Labels: amor, dinheiro, Karl Marx, Manuscritos Económico-Filosóficos
O preço do amor, com pompa e circunstância
Posted by Daniel Melo at 00:27 1 comments
Labels: curiosidades históricas, sexo, tabela de preços do amor
Dia Mundial do Teatro
Posted by Sofia Rodrigues at 00:22 2 comments
Labels: A dúvida, A filha rebelde, Dia Mundial do Teatro, Teatro Maria Matos, Tetro D. Maria
segunda-feira, 26 de março de 2007
Famílias digitais
Matthew Pillsbury, "Penelope Umbrico com as suas filhas, 2.ª feira, 3 de Fevereiro de 2003, 19-19.30H".
Esta imagem pode ser vista na Exposição INGenuidades: Fotografia e Engenharia 1846-2006, na Fundação Gulbenkian, até 29 de Abril.
Posted by Cláudia Castelo at 22:27 1 comments
Labels: digital, Matthew Pillsbury, quotidiano
Flipside
Coisas como o Hi5, o MySpace e a subalternização da leitura em papel à leitura em suportes digitais foram como que o prenúncio do Second Life, entretanto já muito parecido com a «primeira vida». Mas a segunda vida é que, afinal, acaba por ser a primeira: evoluções tão lógicas como a do Google para o Gmail (já nem falo do Google Earth, etc.), destes para a junção ao Blogger e, mais recentemente, a compra do YouTube, só confirmam a primazia do digital na vida banal, como o maior interesse no email do que no snailmail já anunciava.
É um sistema, e mesmo quem não confunda a sua existência com o aparato técnico e tecnológico em torno dela não deixará de o reconhecer. Mesmo não gostando muito e atrasando a adesão, o «mundo da vida» é cada vez mais este.
Posted by CLeone at 21:58 2 comments
Labels: cesurismo, digital, quotidiano
Escolha de causas
Posted by Sofia Rodrigues at 21:26 1 comments
Labels: D. Afonso Henriques, Frei Bento Domingues, Grandes Portugueses, Igreja, Santarém, Santuário de Fátima, Timothy Radcliffe
O Senhor Mais ou Menos...
É muito provável que já tenham ouvido falar do Senhor Mais ou Menos. Estou mesmo convencido que já o poderão ter encontrado bastantes vezes nas vossas lutas quotidianas pela ‘sobrevivência’.
Já contratou um electricista que não aparafusou devidamente as tomadas na parede mas pediu o dinheiro pelo serviço completo? E um taxista que o transporta para um local X na sua cidade como quem lhe faz um favor, apesar de estar a ser pago com tarifa de taxímetro? Se não anda de taxi e nunca precisou de electricistas, que tal o senhor que leva o cão a passear na sua rua mas se esquece de apanhar a caca deste requintado animal com um saco de plástico? E por que não o vendedor que está no balcão a ler o jornal e demora uns poucos (longos) minutos para o atender de forma bruta e mal-educada? Poderia também falar do colega de trabalho que se compromete com toda a certeza para uma sessão de trabalho na segunda-feira pelas 15h sem sequer saber se vai estar livre nessa altura?
Todos estes casos são transfigurações quotidianas do famoso Senhor Mais ou Menos, o tal que faz o seu trabalho nem bem nem mal, fá-lo mais ou menos. Mas para não pensarem que eu acho que esta figura só se encontra lá em baixo ‘nos rochedos onde as ondas batem bem forte’, que tal o sofisticado diplomata que parte em viagem de trabalho para o Oriente mas se esquece de planear a balança de custos e benefícios da sua viagem através da cuidadosa elaboração de uma estratégia diplomática? Um outro exemplo ‘chique’, desconfio que um pouco menos óbvio para alguns, é o do ‘super professor universitário’ que acumula quatro ou cinco lugares de ensino em várias instituições diferentes e nos quer convencer que o seu «génio» é grande o suficiente para dar conta de tanto trabalho ao mesmo tempo. Sem querer duvidar da alegada ‘genialidade’ destes ‘super’ profissionais, pergunto-me se não será este precisamente um dos casos ‘chiques’ mais ‘super’ do Senhor Mais ou Menos? É que não podendo prestar a atenção devida (os dias só têm 24 horas!) a cada um dos seus quatro ou cinco trabalhos, estes ‘super professores universitários’ acabam por se comportar um pouco como os electricistas do começo, i.e., ‘não têm tempo para aparafusar devidamente as tomadas na parede mas pedem o dinheiro pelo serviço completo’.
É possível que estejam a pensar que este é mais um texto cheio de ‘pessimismo destrutivo’, mas a verdade é que essa não é de todo a minha intenção. O que quero dizer poderá mesmo ser encarado como uma boa nova (uma espécie de mensagem de ‘absolvição’, caso enfie a carapuça como eu). É que tudo indica que esta personagem é menos um fenómeno nacional do que um fenómeno global. Mais: que se trata de um daqueles 'fenómenos globais de longa data' que os antropólogos (estes são aqueles que estudam os seres humanos no seu todo) dirão ser bem característicos da espécie humana. Na China, por exemplo, a sua existência já é conhecida desde há muitos séculos, senão mesmo desde há alguns milénios, mas ele só seria imortalizado literariamente no início do século passado pelo famoso filósofo e ensaísta Hu Shi (1891-1962), num pequeno texto cujo título está precisamente por detrás do nome da vedeta deste post: «O Senhor ‘cha-bu-duo’ (leia: ‘tsá-bú-dó’) ou «O Senhor Mais ou Menos» - trata-se de um daqueles textos cuja perspicácia, brevidade e clareza os transporta muito rapidamente para os livros da escola secundária onde são apresentados como modelos literários e vectores de mensagens morais (foi aliás num destes livros que eu me confrontei pela primeira vez com este texto). Quem é Hu Shi? E do que fala Hu Shi quando se refere ao Senhor Mais ou Menos?
Esse será o tema do nosso próximo post.
Posted by gdsantos at 16:53 2 comments
Labels: China, Hu Shi, Senhor Mais ou Menos
Como não ser um pai ou uma mãe hipócrita
How Not to Be a Hypocrite: School Choice for the Morally Perplexed,
de Adam Swift (2003, London: Routledge, 189 p.)
Este é o livro que os pais de esquerda que não confiam na escola pública mas sentem escrúpulos em colocar os seus filhos no ensino privado deviam ler. À atenção de um editor português. É filosofia política aplicada no seu melhor.
Posted by Hugo Mendes at 02:30 0 comments
Labels: escola privada, escola pública, escolha de escola, igualdade de oportunidade
Notas sobre o debate económico-político contemporâneo
No 'lado b' do Peão, espaço (também) para textos mais longos de reflexão, coloquei um post a partir do debate mantido hoje com Daniel (em particular) e com o Renato sobre a política económica do actual Governo.
Posted by Hugo Mendes at 01:44 0 comments
Labels: Lado B
Não renegue à partida uma ciência-arte que desconhece
Posted by Daniel Melo at 01:01 1 comments
Labels: arte, Ciência e Arte
domingo, 25 de março de 2007
Perguntas do dia
Poderá um governo ter uma política reformista com um déficit orçamental superior a 3%?
Será possível chegar a uma situação orçamental estável (inferior a 3%) sem uma verdadeira política reformista?
Será que o déficit não se está a tornar numa espécie de bode expiatório para justificar a incapacidade reformista dos consecutivos governos nacionais?
Porque é que a maior parte das propostas económicas que vêm da esquerda são encaradas como suicidárias, e as da direita nem por isso?
Posted by Renato Carmo at 21:21 7 comments
Os 50 anos duma "utopia realizada"
Posted by Daniel Melo at 19:36 5 comments
Labels: cosmopolita, Europa, União Europeia, utopia
A saída social-democrata para a crise
"(...) [T]he decision to the engage the state in the provision of fixed investment is mostly based on supply-side policy considerations. Public investment is always conditional on balanced budgets and reasonable growth rates. More public investment is undertaken by social democratic governments only after the finances of the state have been balanced (either through higher taxes or as a consequence of an upturn in the business cycle). Large public deficits, incurred to achieve a temporary boost in consumption, are abhorred by social-democratic governments because they threaten to erode public savings and therefore the overall rate of domestic savings. Thus, in turn, affects the investment rate in a way that upsets the core of a social democratic supply-side economic strategy. A leftist strategy based on 'spending one's way out of the crisis' may occasionally happen (as indeed took place in several countries in the late 1970s) but is exceptional. Long-term economic growth, allocated in a redistributive manner, takes precedence over short-term, demand-management policies".
in Carles Boix, Political Parties, Growth and Equality: Conservative and Social Democratic Economic Strategies in the World Economy (Cambridge, Cambridge University Press, 1998, p.69)
Posted by Hugo Mendes at 17:44 0 comments
Labels: défice, investimento público, política económica, social-democracia
Citações para reflexão (recortes da semana)
Posted by Daniel Melo at 16:45 9 comments
Labels: Estado social, governo, política de desenvolvimento, política económica, política financeira, Salazar, títulos/status
Multiculturalismo (I)
Posted by Zèd at 00:42 3 comments
Labels: cosmopolita, multiculturalismo, Paris
sábado, 24 de março de 2007
"A estudantada que se desfraldou por inteiro"
Vale a pena ler os testemunhos recolhidos por Adelino Gomes no P2. Por uma vez, não são só depoimentos dos mesmos líderes estudantis, até inclui excertos do diário de Jorge Miranda, só faltou mesmo falar com não dirigentes (e mudar o título para "Crise de 62 contada pelos que a fizeram", e não "pelos que a dirigiram"), fica para a próxima. E bastou isso para tornar a informação mais diversificada e interessante.
Posted by Daniel Melo at 13:47 0 comments
Labels: crise académica de 1962, ditaduras, revolta estudantil, terceiro sector
New blog in town
O Francisco Frazão escreve textos que são uma maravilha.
Tem um blogue novo, em jeito de lonesone cowboy, com tons de cinzentos e azuis lindos que fazem lembrar os seus olhos.
Posted by vallera at 02:04 0 comments
Labels: blogues, Fábrica Sombria
sexta-feira, 23 de março de 2007
Do pacifismo, para a mudança social
A corrente mais ‘visível’ do pacifismo tem uma génese concreta: o pós-II Guerra Mundial, quando emergiu um movimento pacifista que, anos depois, e dado o contexto da Guerra Fria, lançaria campanhas mediáticas pelo desarmamento/ não proliferação de armas. O eixo principal era o anti-nuclear, mas não se ficava por aí: a corrida aos mísseis e às minas anti-pessoais, a proliferação de armas em geral. A imagem do post é o símbolo original para o Direct Action Committee Against Nuclear War, de 1958 (vd. aqui; a outra imagem colorida, que se eclipsou, é uma variante recente, há dezenas delas).
Algumas das mais importantes ONG’s na área dos direitos humanos e cívicos surgiram neste contexto: Peace Action e a Amnistia Internacional. Algumas das mais importantes convenções internacionais foram criadas por pressão da opinião pública organizada.
O pacifismo tem várias correntes, algumas bem antigas, como a moral judaico-cristã do “não matarás”, dando origens a vários seguidores (anabaptistas e Amish, etc.); o jainismo de matriz indiana; etc..
No século XIX, dentre as várias correntes internacionalistas firmou-se a da defesa da paz: vd. o International Peace Bureau (f.1891, Prémio Nobel da Paz em 1910), que tinha ligações com outros movimentos emancipadores. Filantropos como o norte-americano Andrew Carnegie tentaram reforçar a paz com leis e organizações internacionais (em 1910 fundou a prestigiosa Carnegie Endowment for International Peace).
Mais recentemente, Gandhi preconizava que não havia uma via para a paz, a paz é que era a via ela mesma. A mudança e a luta são os fundamentos da boa acção humana, e ele foi um bom exemplo disso. A acção directa é, pois, um dever ético, político e social, devendo ser uma acção orientada para melhorar as condições dos desfavorecidos e para salvaguardar a segurança e sustentabilidade de todos.
No pós-II Guerra Mundial surgiram outras ONG’s relevantes, como a Pax Christi International (f.1945), a Physicians for Social Responsibility (f.1961, Prémio Nobel da Paz em 1981), etc..
Há correntes que concebem a paz com programas de desenvolvimento e cooperação comunitários, que podem ir até ao nível nacional (ex. da Foundation for P.E.A.C.E., f.1979) ou mesmo internacional (ex. da Foundation for Self-Sufficiency in Central América), ou através de fundações como a de Carter ou as ligadas a instituições universitárias, como a Joan B. Kroc Institute for International Peace Studies (f.1986), integrada na Univ. Notre-Dame/ Paris, o MA-Peacestudies da Univ. Innsbruck, ou o United States Institute of Peace.
A auto-defesa e o recurso à violência para defesa em situações extremas de grande conflitualidade são aceitáveis, mas isso não quer dizer que a principal preocupação não seja tentarmos neutralizar as causas dessa violência: a intolerância, as ideologias da violência, os ultranacionalismos e fundamentalismos, a ausência de condições condignas de vida, etc..
O pretexto foi a guerra no Iraque, mas ultrapassa claramente essa questão: o Iraque foi ocupado supostamente por ter armas de destruição maciça (quando a via devia ter sido as inspecções e o mandato da ONU); hoje, o Irão e a Coreia do Norte estão à beira de terem armas nucleares e a comunidade internacional preocupa-se legitimamente com isso. O Paquistão já as tem e é uma ditadura, etc., etc.. É a ONU e mediadores respeitados que devem ser apoiados com vista à resolução de graves conflitos, e não os agentes mais belicistas.
Enquanto pacifista estou ao lado dos que denunciaram a mortandade devastadora das Guerras Napoleónicas (sim, já vem daí esta história), a «carne para canhão» da I Guerra Mundial, a ameaça nazi a que os Aliados não ligaram até terem a serpente a entrar-lhes casa adentro (foram dos 1.ºs a fazer esta denúncia); ao lado dos que denunciaram a Guerra Fria e a sua vertigem belicista; ao lado dos que denunciam hoje a nova corrida armamentista, com os EUA de novo a querer gastar rios de dinheiro para criar escudos anti-não sei o quê no espaço, a China e o Japão a aumentarem brutalmente o arsenal bélico, etc.. Estou ao lado da ONU e de todas as ONG’s e iniciativas que pretendem conciliar, ir para as negociações, pressionar para conversações.
A ONU tem uma University for Peace, na Costa Rica, e instituiu o Dia Internacional da Paz, que calha a 21 de Setembro. Até lá teremos muito tempo para debater.
Nb: para mais informação vd. historial internacionalista ap. IPB, Nonviolence.org e Wikipedia.
PS: não vejo ligação entre pacifismo e multiculturalismo e o lamentável caso referido pelo Hugo é sinal de ultraconservadorismo, mais do que de multiculturalismo: já por cá tb. ocorreram casos similares, bem recentes até, do marido agressor ‘poder’ bater na mulher porque era tradição, era costume, era o chefe de família e não consta que Portugal seja um país multiculturalista, é mais multimarialvista. Já a interculturalidade parece-me um conceito mais interessante para se debater, não achas Hugo?
Posted by Daniel Melo at 20:09 13 comments
Labels: Dia Internacional da Paz, Gandhi, mudança social, não-violência, ONU, pacifismo, Prémio Nobel da Paz, revolta (acção directa), terceiro sector
Disseram "multiculturalismo"?
Na capa de "Público" de hoje:
"Uma mulher de origem marroquina mas com passaporte alemão, com 26 anos e dois filhos, pediu ao tribunal de família de Frankfurt autorização para se divorciar rapidamente do marido, que lhe batia e ameaçava matá-la. A juíza que apreciou o caso considerou que não havia pressa, porque o casal é de cultura muçulmana e o Corão autoriza os maridos a castigar as mulheres."
P.S. - Isto é para antecipar o emblema que deve estar aí para vir de que o blogue é "multicultural" :)))
Posted by Hugo Mendes at 12:45 4 comments
Labels: Corão, multiculturalismo, relação conjugal
E por falar em vazio de ideias
Pessoalmente também acho que a intenção de voto em François Bayrou é volátil, aliás nas ultimas sondagens já começou a descer (pelo menos nas sondagens de quatro institutos: IFOP, IPSOS, BVA e CSA - ver no excelente site de sondagens do Le Monde). Parece-me perfeitamente natural que os eleitores indecisos neste momento confundam ainda Bayrou com a sua indecisão, tem tudo a ver. Mais ainda quando as há uma forte polarização das duas principais candidaturas, Nicolas Sarkozy à direita e Ségolène Royal à esquerda, abre-se caminho para indecisos ao centro. Mas é natural que conforme diminuirem os indecisos de diminua também a votação em Bayrou. Por outro lado, se por ventura François Bayrou passa à segunda volta, seja com Nicolas Sarkozy seja com Ségolène Royal, provavelmente ganha, é a vantagem de estar ao centro.
P.S. - E é bom não esquecer que a UDF, partido de Bayrou, na Assembleia tem apoiado sitematicamente o governo da maioria de direita, na prática a UDF de centrista tem muito pouco.
Posted by Zèd at 11:36 3 comments
Labels: Bayrou, Eleições França, presidenciais francesas
Colorida só a Primavera
Contudo, o mundo não é colorido. Ou, pelo menos, as suas cores não são bem aquelas com as quais nós gostaríamos de o pintar. Olhando para algumas zonas e histórias do mundo, tenho alguma dificuldade em imaginar-me pacifista. Na verdade, se eu fosse palestiniano dificilmente me imagino pacifista, ou iraquiano, ou timorense (antes da independência), ou angolano ou moçambicano (em pleno período colonial). Se eu fosse um negro nos Estados Unidos nos anos 50 e 60, ou na Africa do Sul durante o Apartheid, provavelmente não seria pacifista.
Alguns destes e de outros movimentos conquistaram a paz porque resistiram, lutaram e pegaram em armas. Conseguiram a paz precisamente porque não foram pacifistas! Por isso, tenho uma certa dificuldade em conciliar o pacifismo com a revolta legítima contra, por exemplo, o imperialismo ou o fascismo (venha ele donde vier).
Posted by Renato Carmo at 10:30 2 comments
Pela paz no Iraque (agenda)
Posted by Daniel Melo at 00:23 13 comments
Labels: cinema documental, Iraque, paz (iniciativas pela), terceiro sector
Solidariedades
Antes de Florian Henckel von Donnersmarck se ter lançado no cinema, já Almodóvar tinha realizado em 1997 o filme Em Carne Viva, dos raros filmes deste realizador espanhol, onde explicitamente, parte da acção decorre durante o franquismo. A solidariedade perante estranhos que vemos no filme alemão por parte de Gerd Wiesler, surge frequentemente nos filmes de Almodóvar, particulamente no filme Tudo sobre a minha mãe. Em Almodóvar a solidariedade é quase sempre uma virtude feminina:
Obrigada, seja quem fores. Toda a vida dependi da gentileza de estranhos (Huma para Manuela em Tudo sobre a minha mãe). Mas no filme, Em Carne Viva, Almodóvar abre uma excepção, e Victor, o protagonista, no meio do trânsito com a sua mulher que vai dar à luz, diz carinhosamente para o seu filho prestes a nascer: Sei perfeitamente como te sentes. Há 26 anos encontrei-me na mesma situação qu tu. Mas tens mais sorte do que eu, grande estupor, não calculas como tudo mudou. Olha o passeio, cheio de gente. Quando eu nasci não havia ninguém nas ruas, as pessoas estavam todas trancadas em casa, cheias de medo. Por sorte tua, meu filho, há muito que em Espanha nós perdemos o medo.
Almodóvar e o seu cinema são, acima de tudo, símbolos e espaços de liberdade que realçam a ruptura com o regime ditatorial de Franco, e que, ao mesmo tempo, ajudaram também a construir a cultura espanhola contemporânea. Espero que Florian Henckel von Donnersmarck enverede numa boa carreira como cineasta.
Posted by vallera at 00:00 0 comments
Labels: A Vida dos Outros, Almodóvar, cinema, cinema europeu, Em carne viva, Florian Henckel von Donnersmarck, Tudo sobre a minha mãe
quinta-feira, 22 de março de 2007
O arquivo que nunca existiu
"As fichas de cada aluno já ninguém sabe delas. Nos primeiros anos, a nota final é acompanhada com fundamento, depois é deitada fora."
[Sobre o registo de pagamento de propinas] "Ao fim de cinco anos, vai tudo para o maneta."
Assim são tratados documentos com valor de prova, necessários à averiguação de actos, transacções e direitos. Ao arrepio de princípios básicos de gestão documental e de transparência de procedimentos, os vestígios da memória organizacional da UnI têm sido sistematicamente apagados, com a conivência do seu dirigente máximo. Uma instituição que destrói o seu arquivo é uma instituição sem passado e sem futuro.
Posted by Cláudia Castelo at 23:02 12 comments
Labels: arquivos, Universidade Independente
Rio acima, Rio abaixo
Mas vamos aos detalhes, pois ambos os artigos são importantes: só se obtém um retrato completo do personagem unindo as duas facetas.
Comecemos pela «má imprensa»: "CDU quer privados na organização das corridas da Boavista" (de Francisco Mangas, p. 33, lamentavelmente sem arquivo electrónico).
É verdade, inverteram-se os papéis: agora é a CDU a pedir privados para tomarem conta duma corrida de carros, pois custará 2 milhões de euros aos cofres municipais e tem exactamente os mesmos 6% de receitas de bilheteira que tinha a extinta Culturporto. A gincana tem um pomposo nome: Grande Prémio Histórico do Porto, e faz lembrar os recentes despautérios terceiro-mundistas com o Lisboa-Dakar.
Em suma, temos então uma política cultural portuense reduzida a fogo-de-artifício, gincanas automóveis e lantejoulas de La Féria. Fantástico, Mike!
O texto do P intitula-se "Rio diz que as regiões podem ser «solução»" e nele Filomena Fontes revela-nos o que levou o edil a repensar melhor a questão: "«há situações em que, se as decisões forem tomadas localmente, são mais vantajosas do que se continuarem dependentes da administração central»"; "valerá a pena pensar num modelo de governação que «utilize melhor e com mais cuidado» os dinheiros públicos. A saúde e a educação foram duas das áreas que apontou". E, já a finalizar o seu discurso público perante militantes do PSD de Torres Novas, confessa: "«face à minha experiência, hoje estou aberto para ver se há uma solução equilibrada para a situação presente»".
Ou seja, Rui adoptou um dos argumentos centrais dos defensores da regionalização. Mais vale tarde do que nunca.
Nb: a imagem do modelo mini é daqui; a outra tb. é dum site brasileiro, villalobos qualquer coisa..
Posted by Daniel Melo at 00:12 1 comments
Labels: Câmara Municipal do Porto, imprensa, política cultural, política municipal, regionalização, Rui Rio
quarta-feira, 21 de março de 2007
Boas notícias do futuro
Posted by Cláudia Castelo at 21:13 2 comments
Dia Mundial da Poesia
Uma Pequenina Luz
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da
estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber:
brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma
treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou
não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.
25/9/1949
Fidelidade [1958], “Obras de Jorge de Sena Antologia Poética”,
Asa Editores, Junho, 2001
Posted by Sofia Rodrigues at 17:40 0 comments
Labels: Dia Mundial da Poesia, Jorge de Sena
E agora uma ideia ingénua para combater a pobreza
Posted by Zèd at 09:36 8 comments
Labels: combate à pobreza, ideias ingénuas, microcrédito, Política, política económica
terça-feira, 20 de março de 2007
La France Invisible
Quando em 1993 Pierre Bourdieu e uma vasta equipa de sociólogos lançaram La Misère du Monde, a tão francesa "questão social", ligada aos fenómenos da velha e, hoje, da 'nova' pobreza, regressou por uns tempos à consciência mediática hexagonal. Por sinal, em 1995 Jacques Chirac foi eleito presidente da República na onda de uma campanha onde a fracture sociale tinha um lugar especial.
14 anos depois, ela continua lá, apenas mais velha e profunda. E a incapacidade dos sucessivos governos - a par de sindicatos e representantes patronais cada vez mais radicais nas suas atitudes - para diminuir o desemprego e evitar o aumento da pobreza também.
Há uns meses, uma equipa de sociólogos, em associação com jornalistas, produziu um documento com menos pretensões científicas que o trabalho de Bourdieu, mas com uma semelhante riqueza de testemunhos, retratos e análises da pobreza, precaridade e discriminação social, racial e de género. Chama-se La France Invisible. A edição é de Stéphane Beaud, de Joseph Confavreux, e de Jade Lindgaard, Paris: Seuil, 2006.
P.S. - Se é que isto explica alguma coisa: este é o género de trabalho que o Baudrillard não faria. É "social" a mais para ele - o mesmo que entretanto havia desaparecido uns anos antes.
Posted by Hugo Mendes at 20:02 0 comments
Labels: Bourdieu, combate à pobreza, precaridade, sociologia francesa
A vida das imagens ou a última exposição
Posted by Sofia Rodrigues at 19:11 1 comments
Labels: CCB, colecção Berardo, Daniel Blaukfus
A árvore e a floresta
"Escolas secundárias vão alugar espaços para casamentos e baptizados".
Esta notícia, que faz hoje a capa do Diário de Notícias (DN), dá um bocado vontade de rir.
Começo pelo essencial, transformado em acessório pelos jornalistas. Pour aller vite, é assim: o Ministério da Educação vai investir cerca de 940 milhões de euros na modernização das escolas secundárias e profissionais do país: 332 das 477 sofrerão obras de requalificação até ao ano de 2015 (ou 2016). O nosso parque escolar está degradado, e em inúmeras escolas em péssimas condições. Basta lembrar que 77% das escolas secundárias foram construídas depois de 1974, em regime de pré-fabricação, e com um prazo de vida a rondar os 25-30 anos. Essas escolas - atenção: 3/4 do total - estão hoje a chegar ao fim da vida. Se não houver um programa robusto de modernização, não há solução sustentada e de futuro para este problema estrutural.
Ora, o que noticia - com honras de capa! - o DN? Que as escolas secundárias vão alugar espaços para casamentos e baptizados. A notícia praticamente ignora quase por completo dados, no mínimo, relevantes: que o parque escolar nacional, em muitos locais em péssimas e inadmissíveis condições, vai ser profundamente requalificado; que o modelo de financiamento vai ser alterado (e só a sua alteração - no qual se inscreve a criação da empresa pública "Parque Escolar", mas não só - permite a modernização das escolas, porque o modelo anterior não pemitia nada disto); e que, como não há dinheiro nacional e comunitário para cobrir todo o programa, as escolas vão ter que contribuir com a sua pequena parte (15% do 940 milhões de euros estão previstos serem cobertos por acções de valorização patrimonial e desenvolvimento de unidades de negócio; mais dados aqui). É aqui que a história dos casamentos e baptizados entra.
Não está em causa, logicamente, os media serem ou não a caixa de ressonância do Governo, mas, como queria discutir há uns dias o Zèd, o 'bom' e o 'mau' jornalismo: praticamente ignorar um programa lançado a nível nacional que me parece ser tão urgente quão consensual para noticiar, em tom quase-panfletário, um pormenor do mesmo parece-me verdadeiramente cómico. É como olhar árvore e ignorar a floresta.
Enfim: quem viu o DN e quem o vê.
P.S. - Já agora: nem vejo onde possa estar a polémica; não anda toda a gente a dizer que é preciso as escolas terem autonomia? pois bem, autonomia significa também ter responsabilidade na arrecadação e gestão dos seus próprios fundos; por outras palavras, a autonomia significa também mais responsabilidade, não apenas mais liberdade - coisa de que muitos proponentes da autonomia das escolas selectivamente se esquecem.
Posted by Hugo Mendes at 15:47 3 comments
Labels: Diário de Notícias, educação, escolas secundárias, Ministério da Educação, programa de modernização
Fomos convocados
Continuação do debate sobre o SNS a seguir aqui.
Posted by Renato Carmo at 14:25 0 comments
Aguardamos a resposta, impacientes...
Ora ultimamente escreveu-se muito sobre Baudrillard, que eu na minha ignorância desconhecia por completo, mas quando vejo este vídeo (postado aqui) fico inquieto. É que pela amostra junta fico com a ideia - perdoe-se-me a provocação desnecessária e gratuita, e ainda para mais o senhor morreu há tão pouco tempo, mas hoje estou um nadinha pr'o iconoclasta - que se trata do campo da Filosofia (e quem diz Filosofia diz Sociologia, ou Antropologia, ou Ciências Sociais, ou as Ciências simplesmente) que eu menos aprecio: a masturbação intelectual.
Posted by Zèd at 00:03 16 comments
Labels: ciência, ciências sociais, Filosofia, masturbação intelectual, Sociologia
segunda-feira, 19 de março de 2007
Allgarve, Poortugal
Leio no site da TSF que a nova campanha do governo para promover o Algarve como destino turístico está a provocar a indignação de autarcas, políticos e hoteleiros algarvios.
Eu não sabia, mas na nova campanha o Algarve aparece assim:
Perante isto, o blogger emigrado, descendente de algarvia, com uma infância e adolescência bafejada da luz do Sotavento e da Ria Formosa, tem duas hipóteses:
a) ou escreve pontos de exclamação até lá abaixo, ao fim da página (técnica pouco eficaz porque ninguém lê um blogue até ao fim da página e porque só o partir do écrã do computador poderia traduzir fielmente a indignação sentida ao ler a notícia)
b) ou goza com o assunto e junta-se à nobre tradição clássica dos cínicos (vamos por esta segunda hipótese, porque o computador saiu caro).
VALHA-ME SÃO DIÓGENES!!!!
O QUE DIZ EM DEFESA DA CAMPANHA O SECRETÁRIO DE ESTADO DO TURISMO, BERNARDO TRINDADE, TAMBÉM É GIRO: "UM DOS PONTOS A MELHORAR É A INEXISTÊNCIA DE UMA ANIMAÇÃO COM GLAMOUR NO ALGARVE".
(Ponham maminhas, senhores governantes, maminhas verdadeiras à mostra à passagem em Alljezur. Ponham maminhas em Allcantarilha, em Allbufeira, em São Brás de Allportel. Ponham maminhas nas estações de serviço e nos apeadeiros, do Allentejo ao Allgarve. E ponham rabos de rapazes jeitosos, também, que o glamour hoje é para todos.)
O pior desta história é que os autharcs, hotellers e politicallers allgarvios, estando desta vez carregados de razão, são cúmplices. Cúmplices por estarem ligados, há anos e anos, a uma gestão da região unicamente como objecto turístico. E, como objecto turístico, um puro objecto mercantil. A prova é que hoje a sua defesa do "bom nome" do Algarve, por mais honrosa que possa parecer, é só a defesa do bom nome de uma marca. Como diz o presidente da Associação dos Hoteleiros Algarvios, Elidérico Viegas, «Isto é no mínimo ofensivo, não só para os algarvios mas também para as mais elementares regras do marketing político. O Algarve é das marcas mais consolidadas a nível internacional, e isto revela uma incompetência técnica quase a 100 por cento».
Digam-me que não tenho razão, por favor.
Mas o Algarve é uma região reduzida a uma marca. No fundo, é como a Coca-Cola passar a chamar-se "Corca-Cola" e ficarmos escandalizados por isso. O Ministério da Economia (e da Inovação, pour cause) limita-se a seguir os ventos publicitários.
Valha-me, valha-me Santa Bárbara de Nexe.
Posted by andre at 21:29 5 comments
19 de Março
Posted by Renato Carmo at 10:53 2 comments
Labels: paternidade
Ciência e Arte
Patrick Blanc é um investigador, na área da Ecologia Vegetal, interessa-se pela evolução das plantas em habitates extremos. Para além da Ciência, desde há vários anos que se tem dedicado a realizar construções a que chama "Muros Vegetais", a meio-caminho entre a escultura e a arquitectura, utilizando plantas, como o nome sugere. Mais recentemente apresentou a exposição fotográfica "Folies Végétales no espaço "Electra" (da EDF - Electricidade de França), em Paris. Podem ver-se aqui fotos da exposição. O que gostei bastante na exposição foi que a componente estética e a componente científica não foram separadas, muito pelo contrário. Na apresentação das fotografias era dado o contexto natural - leia-se ecológico - em que elas foram tiradas, como se a compreensão da realidade fosse essencial à apreciação da beleza das imagens. A organização das exposição também obedece a critérios científicos, as fotos estão agrupadas no temas: flores, frutos, folhas e raízes. A apresentação do espaço segue a mesma lógica, ao longo da exposição apresentam-se várias construções que tentam recriar os ambientes ecológicos extremos onde as fotografias foram obtidas, tentando enquadrá-las com o seu habitat original. A exposição é, a meu gosto, muito bem conseguida (mesmo se no aspecto científico eu possa ter divergências com a visão de Patrick Blanc), teve grande afluência de público, e foi inclusivamente prolongada.
Posted by Zèd at 09:48 2 comments
Labels: arte, ciência, Ciência e Arte, Patrick Blanc