sexta-feira, 9 de março de 2007

Ainda a violência na escola

O Francisco José Viegas teve a simpatia de colocar no seu Origem das Espécies uma parte da posta que eu havia escrito há uns dias em comentário a um texto curto seu sobre a violência nas escolas. Fê-lo sem qualquer comentário, sob o título "Médias baixas". Talvez com isso Francisco José Viegas queira mobilizar a ironia a seu favor, mas para ilustrar o meu argumento de cariz mais quantitativo, avanço aqui com um pequeno exemplo.

Eu não tenho aqui à mão neste momento dados para fazer as contas exactas sobre a realidade portugues de modo a comparar o risco de um cidadão sofrer uma agressão na rua com o risco de um aluno ou professor ser dela vítima dentro da escola, mas deixo um número relativo à realidade francesa, e que é suficiente para nos dar uma ideia da proporção destes fenómenos*. Os dados são relativos ao "longínquo" ano de 1993, mas isso não interessa muito para o caso: nesse ano, foram recenseados 1.993 casos de agressão (o número de casos é idêntico ao ano em causa, mas as coincidências têm destas coisas) entre alunos, para cerca de uma população estudantil de cerca de 14 milhões; e 3.673 casos de agressão a professores e pessoal não-docente - embora este número esteja inflacionado, dado que são incluídos nesta categoria os actos perpetrados contra as infra-estruturas (por exemplo, roubo de material) - para um total de 1.100.000 pessoas.
Fazendo as contas, vemos que a probabilidade de um aluno ser alvo de agressão na escola é de 0.014%, e de um profissional da educação é de 0,4% (número, repito, altamente inflacionado pelo motivo atrás exposto).
Ora, qual era, nesse ano, a probabilidade de uma pessoa ser agredida fora da escola, enquanto simples transeunte? O valor comparável relativo aos delitos cometidos fora da escola era de 6,5% (naquele ano, foram contados 3.703.000 delitos numa população de 57 milhões de franceses). Podemos ver que a probabilidade de um aluno ou professor ser alvo de uma agressão ou delito fora da escola é muitíssimo superior à probabilidade de ser vítima dentro do espaço escolar.

Eu vou procurar os dados mais recentes relativos à realidade portuguesa, mas não há motivo nenhum para pensar que as ordens de grandeza sejam muito diferentes entre França e Portugal - e se existe diferença, provavelmente joga a favor das nossas escolas: o risco de ser agredido dentro de uma escola em Portugal será ainda mais baixo do que o que se passa(va) em França.

*Estes números estão citados no artigo de Éric Debarbieux, "La violence à l'école", publicado em L'École. L'État des Savoirs, dirigido por Agnès Van Zanten, Paris: La Découverte & Syros, 2000, pp.399-406.

0 comments: