Tenho a impressão que desde os tempos da escola que me inculcaram a ideia, de maneira as mais das vezes subliminar, que Ciência e Arte são universos mutuamente exclusivos. A Ciência dá-nos uma descrição e uma compreensão racional da realidade tão rigorosas quanto possível, o que exige objectividade, e o uso de um método lógico. A Arte por sua vez é subjectiva, e não é racional nem lógica, e é assente na criatividade, logo não nos pode dar descrever a realidade nem permite compreendê-la. Naturalmente eu não concordo em nada com esta visão das coisas. Por um lado a Arte não é necessariamente subjectiva, nem irracional, nem ilógica, pode ou não sê-lo, conforme o desejo do artista. Por outro lado, nada nos diz que uma compreensão objectiva da realidade não pode ser bela, pelo contrário muitas vezes, quase todas, é-o. A criatividade é um elemento essencial do trabalho do investigador, e a Ciência tem geralmente uma importante componente estética. Muitas das mais importantes teorias científicas impõem-se - na minha opinião - graças, em parte, a essa componente estética. Na Relatividade de Einstein, na Geometria Euclidiana, no Referencial Cartesiano, o aspecto estritamente científico é indissociável da sua beleza. Outro exemplo que me toca mais pessoalmente, a microscopia há mais de cem anos anda a contribuir para o avanço da biologia através da procura continua da beleza nas imagens, o microscopista é na essência um fotógrafo. Tudo isto para dizer que me surpreende que haja tão pouca gente a fazer Ciência como uma forma de Arte. Mas ele há-os, como por exemplo Patrick Blanc.
Patrick Blanc é um investigador, na área da Ecologia Vegetal, interessa-se pela evolução das plantas em habitates extremos. Para além da Ciência, desde há vários anos que se tem dedicado a realizar construções a que chama "Muros Vegetais", a meio-caminho entre a escultura e a arquitectura, utilizando plantas, como o nome sugere. Mais recentemente apresentou a exposição fotográfica "Folies Végétales no espaço "Electra" (da EDF - Electricidade de França), em Paris. Podem ver-se aqui fotos da exposição. O que gostei bastante na exposição foi que a componente estética e a componente científica não foram separadas, muito pelo contrário. Na apresentação das fotografias era dado o contexto natural - leia-se ecológico - em que elas foram tiradas, como se a compreensão da realidade fosse essencial à apreciação da beleza das imagens. A organização das exposição também obedece a critérios científicos, as fotos estão agrupadas no temas: flores, frutos, folhas e raízes. A apresentação do espaço segue a mesma lógica, ao longo da exposição apresentam-se várias construções que tentam recriar os ambientes ecológicos extremos onde as fotografias foram obtidas, tentando enquadrá-las com o seu habitat original. A exposição é, a meu gosto, muito bem conseguida (mesmo se no aspecto científico eu possa ter divergências com a visão de Patrick Blanc), teve grande afluência de público, e foi inclusivamente prolongada.
Patrick Blanc é um investigador, na área da Ecologia Vegetal, interessa-se pela evolução das plantas em habitates extremos. Para além da Ciência, desde há vários anos que se tem dedicado a realizar construções a que chama "Muros Vegetais", a meio-caminho entre a escultura e a arquitectura, utilizando plantas, como o nome sugere. Mais recentemente apresentou a exposição fotográfica "Folies Végétales no espaço "Electra" (da EDF - Electricidade de França), em Paris. Podem ver-se aqui fotos da exposição. O que gostei bastante na exposição foi que a componente estética e a componente científica não foram separadas, muito pelo contrário. Na apresentação das fotografias era dado o contexto natural - leia-se ecológico - em que elas foram tiradas, como se a compreensão da realidade fosse essencial à apreciação da beleza das imagens. A organização das exposição também obedece a critérios científicos, as fotos estão agrupadas no temas: flores, frutos, folhas e raízes. A apresentação do espaço segue a mesma lógica, ao longo da exposição apresentam-se várias construções que tentam recriar os ambientes ecológicos extremos onde as fotografias foram obtidas, tentando enquadrá-las com o seu habitat original. A exposição é, a meu gosto, muito bem conseguida (mesmo se no aspecto científico eu possa ter divergências com a visão de Patrick Blanc), teve grande afluência de público, e foi inclusivamente prolongada.
2 comments:
Também cada vez mais vejo a ligação entre e a ciência e a arte, sobretudo na área da criatividade e tudo isso devia começar na escola, onde se podem fazer tantos projectos e actividades a envolver as duas vertentes...
Completamente de acordo. A Ciência muito mais do que uma procura de respostas é uma procura de perguntas. Para procurar perguntas interessantes, e para encontrar maneiras pertinentes de abordar essas perguntas cientificamente (quer dizer empiricamente, experimentalmente) é preciso uma boa dose de criatividade.
E de facto pode e deve começar na escola.
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