segunda-feira, 19 de março de 2007

Allgarve, Poortugal

Leio no site da TSF que a nova campanha do governo para promover o Algarve como destino turístico está a provocar a indignação de autarcas, políticos e hoteleiros algarvios.

Eu não sabia, mas na nova campanha o Algarve aparece assim:

Perante isto, o blogger emigrado, descendente de algarvia, com uma infância e adolescência bafejada da luz do Sotavento e da Ria Formosa, tem duas hipóteses:

a) ou escreve pontos de exclamação até lá abaixo, ao fim da página (técnica pouco eficaz porque ninguém lê um blogue até ao fim da página e porque só o partir do écrã do computador poderia traduzir fielmente a indignação sentida ao ler a notícia)

b) ou goza com o assunto e junta-se à nobre tradição clássica dos cínicos (vamos por esta segunda hipótese, porque o computador saiu caro).

VALHA-ME SÃO DIÓGENES!!!!

O QUE DIZ EM DEFESA DA CAMPANHA O SECRETÁRIO DE ESTADO DO TURISMO, BERNARDO TRINDADE, TAMBÉM É GIRO: "UM DOS PONTOS A MELHORAR É A INEXISTÊNCIA DE UMA ANIMAÇÃO COM GLAMOUR NO ALGARVE".

(Ponham maminhas, senhores governantes, maminhas verdadeiras à mostra à passagem em Alljezur. Ponham maminhas em Allcantarilha, em Allbufeira, em São Brás de Allportel. Ponham maminhas nas estações de serviço e nos apeadeiros, do Allentejo ao Allgarve. E ponham rabos de rapazes jeitosos, também, que o glamour hoje é para todos.)

O pior desta história é que os autharcs, hotellers e politicallers allgarvios, estando desta vez carregados de razão, são cúmplices. Cúmplices por estarem ligados, há anos e anos, a uma gestão da região unicamente como objecto turístico. E, como objecto turístico, um puro objecto mercantil. A prova é que hoje a sua defesa do "bom nome" do Algarve, por mais honrosa que possa parecer, é só a defesa do bom nome de uma marca. Como diz o presidente da Associação dos Hoteleiros Algarvios, Elidérico Viegas, «Isto é no mínimo ofensivo, não só para os algarvios mas também para as mais elementares regras do marketing político. O Algarve é das marcas mais consolidadas a nível internacional, e isto revela uma incompetência técnica quase a 100 por cento».

Digam-me que não tenho razão, por favor.

Mas o Algarve é uma região reduzida a uma marca. No fundo, é como a Coca-Cola passar a chamar-se "Corca-Cola" e ficarmos escandalizados por isso. O Ministério da Economia (e da Inovação, pour cause) limita-se a seguir os ventos publicitários.

Valha-me, valha-me Santa Bárbara de Nexe.

5 comments:

Anónimo disse...

Por "decreto" do ministro da Economia, Manuel Pinho, o Algarve deixou de ser Algarve para passar a ser... ALLGARVE. Não se sabe quanto é que este "decreto" custou ao erário público, mas deve ter custado muito dinheiro, muitos milhares de euros, porquanto só um criador publicitário muito imaginativo se lembraria de tal achado para esta campanha de marketing público de uma das regiões mais genuínas e mais turísticas do país, cuja marca se confunde com os primórdios da nacionalidade. Ao que parece, o Algarve passa a ser "Allgarve" por causa dos ingleses ou dos estrangeiros que só falam inglês. É uma falta de respeito por Portugal e pela lusofonia. Luís de Camões deve estar às voltas no túmulo. Aparentemente, há uma explicação para este grande equívoco: Manuel Pinho não regula bem da cabeça. E o primeiro-ministro, José Sócrates, também não. Caso contrário já teria acabado com o regabofe.

Anónimo disse...

Andre,
Concordo contigo talvez porque na memoria (tambem?) tenho a agua luminosa da ilha da Armona (circa 1978), o camaleao no ombro do vendedor de bilhetes no barco para a Fuzeta, etc. Se fosse por mim, era tudo dali para fora: os tios , as tias, os camones, os alemaes, os holendeses, as familias barulhentas, etc. So' ficava eu e os meus amigos!...
Mas tenho uma incerteza (que tem assim que ver com a realidade): o turismo e marca 'Algarve' tem criado uma constante procura de trabalho (tanto na construcao das torres e "villas" que tu e eu detestamos, como na industria hoteleira, bares, etc) para o algarvios e para todos os que la' arranjaram emprego. Pode-se discordar, mas o turismo portugues de classe media nunca iria ter o mesmo efeito por si so.
Agora: Como qualquer pessoa com meio dia de 'introducao ao marketing' sabe, nao se deve mexer com marcas estabelecidas. Mas aceitar que o Algarve passa por gerir uma imagem que nos ultimos anos se tem vindo a degradar talvez seja bom tanto do ponto de vista do debate como da tua, e minha saude...

Tiago

Sofia Rodrigues disse...

O Secretário de Estado pode sempre pedir ao Dr. Alberto João para estar presente em vários acontecimentos: festas, desfiles, carros alegóricos, e, assim, emprestar imenso glamour ao Algarve...

andre disse...

Tiago,

não queria dizer que o Algarve não precisa do turismo, e que ele dá emprego, ou que dantes é que era bom. Claro que o comércio externo português tem de promover uma imagem, mas se calhar, como se vê por estes desmandos, a promoção dessa imagem não é a melhor. Podia ser uma imagem mais subtil e um pouquinho inteligente. E em geral choca-me a ideia de marca para uma região. Uma região, uma cidade, um país, um continente, não é um produto.

Aliás, preocupa-me mais a imagem que isto dá de nós para nós mesmos do que aos estrangeiros-clientes. N

Anónimo disse...

Andre,
Como disse, concordo contigo. Mas as regioes marca estao em todo o lado: para os teus lados, a 'Normandia' (Mont Saint Michel, etc.) ou mais abaixo a 'Provenca' ou a 'Camargue'., por aqui o 'Lake District', a 'Cornualha' ou as 'Highlands'. E' claro que isso nos faz mais impressao em relacao ao Algarve porque para ti e para mim essa e' antes demais, para usar uma expressao fora de moda, uma 'regiao vivida' e lembrada.
A mensagem da nova campanha e' basicamente a de que o Algarve e' uma regiao para todos e que satisfaz todo o tipo de desejos. Nao e' so' sun, sweat and beer, ou golfe. Um pouco de tudo, mas no fundo nada... Ai diverge fundamentalmente de todas a outras regioes marca (acima referidas), que apostam numa identidade definida.