sábado, 10 de março de 2007

Diz que são estilos de jonalismo diferentes

O Office of the Inspector General (OIG) do Departamento de Justiça dos E.U.A. emitiu um relatório bastante crítico sobre os procedimentos do FBI no âmbito do "Patriot Act" (o relatório pode ser lido aqui, em formato PDF). O Público e o Le Monde publicam nas suas edições em linha notícias sobre o assunto, mas cada um ao seu estilo. À notícia do Le Monde é dado um grande destaque logo na página de entrada, a notícia do Público está refundida na secção internacional. O artigo do Le Monde sem ser muito extenso é bastante completo, já o artigozinho do P nem tanto. Por exemplo, segundo o Le Monde o tal relatório detectou ilegalidades em 22% dos dossiers analisados, segundo o P foram detectadas 17 irregularidades em 77 casos, esquece-se o P de referir que 77 casos é apenas uma amostra (lê-se no relatório "the OIG teams examined a judgmente sample of 77 counter terrorism and counterintelligence investigative cases files", sample em inglês quer dizer amostra, não sei se o/a jornalista do P conhece o significado estatístico da palavra), fica-se com a sensação que são os únicos 77 casos existentes. Lê-se no Le Monde que o uso das "National Security Letters", apenas um dos ítems específicos do "Patriot Act", deveria ser excepcional mas foi usado 56000 vezes em 2004 e 47000 vezes em 2005, no P das "Naional Security Letters" não se encontra rasto. O Le Monde faz um link para o relatório do OIG, o P bem pelo contrário. Segundo o P "Robert Mueller, director do FBI, considerou as conclusões do relatório 'inaceitáveis'", segundo o Le Monde o mesmo Mueller aceita as conclusões e recomendações do relatório.

Só há uma conclusão possível, o Le Monde sofre de anti-americanismo primário. O Office of the Inspector General provavelmente também.

4 comments:

Cláudia Castelo disse...

O teu post é sobre um assunto de extrema importância, daí compreender a tua ironia. O relatório de que tratam as notícias do Le Monde (bem) e do Público (pior) denuncia que os procedimentos do FBI na luta contra o terrorismo no pós-11 de Setembro têm ultrapassado as medidas do «Patriot Act». Ora o «Patriot Act» é já de si demasiado intrusivo e atentatório da privacidade e das liberdades individuais, tendo criado um ambiente de sobrevigilância sobre os cidadãos americanos e estrangeiros ali residentes.
Nos EUA várias associações profissionais, nomeadamente a dos Bibliotecários e a dos Arquivistas Americanos, têm protestado contra as medidas do «Patriot Act» que permitem ao governo federal vigiar e perseguir, entre outros, os utentes das bibliotecas por "actividades suspeitas"; apropriar-se indevidamente de documentos particulares; aceder a dados pessoais, sem o conhecimento dos indivíduos visados; etc.
O relatório do departamento de justiça dos EUA prova que o FBI consegue ultrapassar o «Patriot Act» no desprezo e negação dos princípios e dos valores democráticos.

Zèd disse...

É verdade Cláudia, o "Patriot Act" em si já é mau, o FBI consegue fazer ainda pior (mas apesar de tudo as instituições ainda vão funcionando, e o Departamento de Justiça também fez o seu trabalho e tenta impedir os abusos do FBI).

De facto há aqui duas questões, há os abusos do FBI e há o tratamento da notícia dado pelo Público, que é de facto muito mau. Talvez seja apenas na edição internet, e na edição em papel seja corrigido, mas contém erros grosseiros e dá-me a sensação de ser parcial.

Cláudia Castelo disse...

No teu post fazes ligação a uma notícia do sítio do Público na Internet, retirada da agência Reuters e datada de 09.03.2007, 17h254. Ficamos sem saber se os erros e a parcialidade foram da responsabilidade da Reuters ou de quem transpôs a notícia para o sítio do Público (?).
Na edição impressa de 10.03.2007 a notícia eclipsou-se!

Zèd disse...

É lamentável que a notícia desapareça na edição impressa, é um assunto demasiado importante para ser esquecido.

Acredito que haja erros e parcialidade na notícia da Reuters mas ao publicá-la o Público assume uma responsabilidade, torna-se co-responável pelos erros que venham de trás. Os jornalistas do Público têm o dever de verificar o que publicam. Não me surpreende que os erros, pelo menos em parte sejam devidos a uma tradução apressada, já a parcialidade deve ter outra causa.