Uma Pequenina Luz
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da
estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber:
brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma
treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou
não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.
25/9/1949
Fidelidade [1958], “Obras de Jorge de Sena Antologia Poética”,
Asa Editores, Junho, 2001
quarta-feira, 21 de março de 2007
Dia Mundial da Poesia
Posted by Sofia Rodrigues at 17:40
Labels: Dia Mundial da Poesia, Jorge de Sena
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comments:
Enviar um comentário