Poderá um governo ter uma política reformista com um déficit orçamental superior a 3%?
Será possível chegar a uma situação orçamental estável (inferior a 3%) sem uma verdadeira política reformista?
Será que o déficit não se está a tornar numa espécie de bode expiatório para justificar a incapacidade reformista dos consecutivos governos nacionais?
Porque é que a maior parte das propostas económicas que vêm da esquerda são encaradas como suicidárias, e as da direita nem por isso?
domingo, 25 de março de 2007
Perguntas do dia
Posted by Renato Carmo at 21:21
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7 comments:
"Poderá um governo ter uma política reformista com um déficit orçamental superior a 3%?"
Não, a verdadeira política reformista quando as contas públicas estiverem em dia.
"Será possível chegar a uma situação orçamental estável (inferior a 3%) sem uma verdadeira política reformista?"
A política reformista possível - dada a situação actual - está a ser posta em prática, parece-me. Mas se calhar queremos dizer coisas diferentes por "reformismo".
Porque é que a maior parte das propostas económicas que vêm da esquerda são encaradas como suicidárias, e as da direita nem por isso?
Não é inteiramente verdade: quando elas coincidem, elas merecem o mesmo epiteto (como quando o PSD propos a baixa de impostos esta semana). O grande problema, parece-me, é que o PSD tem, mesmo que vagamente, alguém lá dentro que conceba um modelo económico de futuro - mesmo que a esquerda não goste dele (que restringiria ainda mais, por ex., o Estado social); à esquerda do PS existem propostas assentes num paradigma económico obsoleto. O PSD já se apercebeu que ele é o obsoleto; à esquerda do PS parece-me que ainda não. Mas ele é obsoleto - porque ancorado na alimentação da procura interna e da subida dos salários, etc. - e num post mais longo explica porquÊ, e qual é a confusão que me parece estar em causa.
Ora nem mais, Renato, era justamente para esse impasse que eu estava a tentar chamar a atenção.
Alguém ouviu as minhas palavras.
Ninguém esqueceu os 150 mil empregos prometidos (ou, se se quiser, a prioridade dada à criação de emprego, tout court), e é isso está a ser denunciado e será cobrado eleitoralmente, justamente. Junto às restantes questões de política social, porque as pessoas não vivem nas bolsas de valores, vivem cá na terra.
Voltamos às promessas...Chamem o homem de mentiroso e tudo o mais, mas...Olhemos para o futuro e para o que é possível fazer, não achas, Daniel? É que perdi algum tempo a explicar porque é que as tuas preocupaçoes, que são ideologicamente as mesmas que as minhas, nao chegam para legitimar politicas que são erradas do ponto de vista económico. Caramba, o bom coração não chega.
"Junto às restantes questões de política social".
Fiz a pergunta lá atras que ficou sem resposta: quais foram os cortes nos mais pobres (repito: mais pobres; deixem as classes médias por uns instantes por favor).
Pomos as promessas de lado, o emprego de lado, as classes média de lado, e ficam só o défice e os pobrezinhos.
Mas ocorre indagar: os cortes no investimento não afectarão estes? não é verdade que há 2 milhões de pobres no país e que estes permanecem? e não há 500 mil desempregados e que o desemprego se mantém estagnado nesse valor? e os cortes nas políticas sociais não afectarão sobretudo esses?
Travões à produtividade não são só ou sobretudo os aumentos salariais sem correspondência com o crescimento económico (ainda pegando na questão do poder de compra): mantém-se a burocracia (apesar do SIMPLEX), o mau funcionamento da justiça, as decisões demoradas (tanto numa como noutra), a falta de visão de muitos dos empresários, o afastamento face à inovação e à ciência, etc.
"não é verdade que há 2 milhões de pobres no país e que estes permanecem"
Sim, são números que permanecem - o que devia fazer pensar a todos à esquerda se os mecanismos de redistribuição do Estado social não estão biased em relação às classes médias e altas. É que não basta defender o "Estado social" em abstracto (que não existe); é preciso saber que modelo queremos e se o dinheiro vai para os sítios certos.
(chamo a tua atenção para medidas como o complemento solidário de pensões está a tirar milhares de idosos da pobreza que nunca descontaram (porque não havia sistema para tal no Estado Novo). Isto também é cortar aos pobres?).
"e não há 500 mil desempregados e que o desemprego se mantém estagnado nesse valor. e os cortes nas políticas sociais não afectarão sobretudo esses?"
Estou a pedir-te exemplos, Daniel, não perguntas retóricas...Quanto aos desempregados, eu espero que Portugal não chegue aos valores da Espanha e Finlândia quando sofreram um choque semelhante ao nosso: passaram dos 20%. Atentendo à nossa realidade macoeconómica, eu digo honestamente: não sei como é que o desemprego está tão baixo.
(mais uma vez, o bom coração e dedo bem espetado de indignação não altera um centímetro esta realidade: é preciso saber as medidas correctas para encontrar a saída para ela - e a saída sustentada, não à custa do emprego público, que seria um foclore inaceitável).
"mantém-se a burocracia (apesar do SIMPLEX)"
Calma....há uma coisa em curso que se chama reforma da administração pública. Esperemos para avaliar as coisas. Não podemos é dizer que falta avaliação de medidas e depois não esperar um bocado para que elas sejam colocadas em prática e avaliadas para vir dizer que elas não resultam. Isso assassina qualquer utilidade da avaliação e representa a vitória do senso comum.
"a falta de visão de muitos dos empresários"
Então mas agora o governo também é culpado disto?
"o afastamento face à inovação e à ciência"
Está a mudar. Mas demora tempo: a política da varinha mágica não existe.
Não percebi o que querias dizer aqui:
"Travões à produtividade não são só ou sobretudo os aumentos salariais sem correspondência com o crescimento económico (ainda pegando na questão do poder de compra)"
Estás a dizer que os aumentos salariaias sem correspondência com o crescimento económico travam a subida da produtividade? É que se sim, estás a ir directamente contra a proposta da São José de Almeida relativa ao reforço do poder de compra (e, if anything, a dar-me razão).
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