terça-feira, 13 de março de 2007

A inveja dos outros


Fui ver finalmente a "Vida dos Outros" (de que o André já tinha falado). É bem capaz de ser o melhor filme que vi no último par de anos. Entre as muitas mensagens e lições que se retiram da história, uma das mais improváveis é que para um Estado socialista e autoritário, pior e mais merecedor de censura e controlo do que a criatividade e liberdade intelectual de um escritor, só mesmo um escritor acompanhado de uma mulher bonita (afinal, o artigo de "Laszlo" na Der Spiegel não interessava para nada; a prova é que é a morte, ou o "auto-homicídio" (!), de "CMS" - a actriz Martina Gedeck, na foto - que coloca o fim à investigação).

2 comments:

Sofia Rodrigues disse...

O filme é óptimo. Estava na dúvida se escrevia qualquer coisa, ainda bem que voltaste a falar dele. O que achas que o terá feito mudar de atitude: a beleza da arte, escrúpulos administrativos, a inveja dos outros (como no teu título)?

Hugo Mendes disse...

O que eu acho que levou HGW (só me lembro do nome de código, estranha selectividade da minha memória) a mudar ao longo do período que os vigiava foi o reconhecimento do poder da intimidade e da autenticidade na vida pessoal e profissional. São esses os dilemos que atravessam a existência de "Laszlo" e de "CMS" (nomes de código, again), e são esses que invadem também HGW (a cena fria e impessoal com a prostituta na sua casa vazia e soturna, enquanto antítise à vida do casal que vigiava (e imaginava), é excelente). Parece-me que foi isso que o levou a mudar - e, no fundo, muito objectivamente, a arruinar a sua carreira.