O 4.º ano da ocupação do Iraque vai ser lembrado esta noite com o concerto «Canções pelo Iraque», no cinema São Jorge, às 21h30.
O concerto terá a participação de Fausto, Camané, Jorge Palma, José Mário Branco, Rui Veloso, Luís Represas, Pacman, Paulo de Carvalho e Pedro Abrunhosa (entrada a 10€).
A iniciativa é da Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial para o Iraque, e tem o apoio da Associação 25 de Abril.
Já no sáb.º, há debate com Carlos Carvalho, António Louçã, Manuel Raposo, Rui Namorado Rosa e Silas Cerqueira, na Casa do Alentejo, às 18h30.
No Porto a coisa também promete: a CasaViva e o Tribunal do Iraque Porto lançam o ciclo de cinema «4 anos de ocupação, 4 anos de resistência», que decorrerá de 23 de Março a 11 de Maio (entrada livre). Eis o programa para esta 6.ª feira:
22h30: «Faluja – O Massacre Oculto», de Sigfrido Ranucci (RAI News), 22'06'';
23h15: «Testimonios de Faluya», de Hamodi Jasim, 48'11''.
Para os restantes filmes é favor ver o cartaz aqui ou no blogue casaviva, pois o ciclo decorre na sede desta, à Praça Mq. de Pombal, sempre às 6.ªs ou 5.ªs de cada semana.
Entretanto, as iniciativas são mais que muitas, o problema é não haver um meio de comunicação que as centralize e divulgue. Que o Indymedia Portugal possa regressar o mais depressa possível.
13 comments:
Sem desprimor pelas iniciativas, até porque sempre achei a invasão um expediente para a reeleição de Bush (e anunciado como tal, ainda nos 90's), estes nomes não me parecem propriamente ideais apra um grande debate, mas sim na mesma linha daquele há poucos dias que juntou Soares, Ana Gomes e Freitas. Tanto consenso até parece pensamento único...
E o caso do Iraque, não cumpridor das resoluções da ONU, ditatorial e com uma soberania limitada desde a primeira guerra do Golfo até daria paara boas discussões de Direito Internacional e política em geral, é pena.
Mas tens razão, falta mais informação sobre actividades da sociedade civil que não contem com a presença do exmº sr subsecretário de Estado de qualquer coisa...
Esses cartazes - a estética e a mensagem - é que continuam a ser verdadeiramente contraproducentes.
Eu não sei se falta informação sobre as actividades da sociedade civil; estaria até inclinado a dizer que há excesso de informação e divulgação de múltiplos pequenos eventos, e é essa entropia que gera a invisibilidade de muitos, tornando difícil a separação entre os interessantes e os irrelevantes. Mas é só uma impressão.
"estes nomes não me parecem propriamente ideais apra um grande debate, mas sim na mesma linha daquele há poucos dias que juntou Soares, Ana Gomes e Freitas. Tanto consenso até parece pensamento único..."
Estiveste nesse debate? Eu lembro-me dum que houve na Aula Magna, ainda a Pintasilgo era viva, e onde também estava o Freitas, o Soares, o Louçã e o Nuno Ramos de Almeida, e gostei muito na altura.
Ouvi argumentos diversos, tanto de natureza ética como diplomática, política, social, etc..
Não digo que agora não possa ser repetitivo, mas contra uma guerra os argumentos não podem variar muito não é? O que há de novo para dizer que não tenha sido já dito?
Não foi por isso que também houve a viragem eleitoral nos EUA?
"Eu não sei se falta informação sobre as actividades da sociedade civil; estaria até inclinado a dizer que há excesso de informação e divulgação de múltiplos pequenos eventos, e é essa entropia que gera a invisibilidade de muitos, tornando difícil a separação entre os interessantes e os irrelevantes."
Não vejo onde haja "excesso de informação e divulgação", eu até adiantei que não há um único meio que centralize a informação.
"múltiplos pequenos eventos": só sei destes 3, Hugo, e do debate Soares, Ana Gomes & Louça; sabes de mais algum? 4 eventos é assim tanta coisa?
"Esses cartazes - a estética e a mensagem - é que continuam a ser verdadeiramente contraproducentes"
Ó Hugo, vamos lá ver, se tivesses uma perspectiva de dentro deste tipo de associações se calhar verias diferente: basicamente, a cena é para desenrascar, é tudo voluntariado.
Ademais, a guerra é uma coisa pesada, não dá para aqui por balõezinhos e famílias a dar as mãos num prado verde e florido. São cartazes para evidenciar o horror da guerra, o sangue, a morte. Há muita pub. tb. assim, para despertar consciências e mostrar o lado negro.
Um dado interessante: o concerto no S. Jorge estava esgotadíssimo, cheguei lá em cima da hora e já não sobrava nada. :(
E os nomes de cartaz eram muitos bons, confessa.
Foi uma emoção ouvir "inquietação, inquetação" pelo José Mário Branco e pelo Camané. Foi uma grande emoção ouvir o Fausto. O canto-livre final, como todos os músicos em palco ("venham mais cinco", sempre), deixou-me feliz.
Um excelente concerto contra o esquecimento da guerra absurda que os EUA levaram aos iraquianos.
Eduardo Lourenço e de Noam Chomsky enviaram mensagens lúcidas, lidas por Jorge Silva Melo e Rita Blanco.
"só sei destes 3, Hugo, e do debate Soares, Ana Gomes & Louça; sabes de mais algum? 4 eventos é assim tanta coisa?"
Espera lá: eu não disse que havia excesso de debates (falei de eventos culturais em sentido genérico), falei apenas da maior ou menor visibilidade dos mesmos. São coisas diferentes. Aliás, o teu comentário foi:
"as iniciativas são mais que muitas, o problema é não haver um meio de comunicação que as centralize e divulgue"
Ou seja, tu é que escreveste que as iniciativas são mais que muitas e que o problema era o da comunicação/divulgação.
"Ó Hugo, vamos lá ver, se tivesses uma perspectiva de dentro deste tipo de associações se calhar verias diferente: basicamente, a cena é para desenrascar, é tudo
voluntariado."
O "desenrascanço" - que existe - não tem a ver com a mensagem ideológica, Daniel. A lógica do desenrascanço pode produzir mensagens e cartazes muitíssimo diferentes. (e isso da "resistência" quer dizer o que? "Resistência" a quê e a quem? Eu sou daqueles que acha que as coisas são um bocadinho mais complicadas, mas pronto)
"as iniciativas são mais que muitas",
é verdade, escrevi isso, o que será um exagero em termos globais (como disse, não consegui encontrar um canal que centralizasse a informação), mas para mim 4 eventos numa mesma semana já é muito para acompanhar.
Era mais nesse sentido.
Quanto à «resistência», que vem no cartaz, suponho que seja a resistência à ocupação, nos casos mais mediáticos pessimamente feita, com guerra civil à mistura a complicar, daí alguma dificuldade em compreender a mensagem. Mas também pode ser a resistência ao unilateralismo bélico.
Mas informar com documentários, juntar as pessoas em torno de canções para prestar homenagem às vítimas e debater penso que são formas de denunciar e de lembrar o que foi esta guerra, e formas de tentar evitar outras futuras. Pelo menos para estarmos de sobreaviso.
Continuo a achar que mais vale fazer alguma coisa, mesmo que com imperfeições, do que nada fazer.
Eu não acho que seja melhor nada fazer; penso apenas que, se se pretende uma base maximalista de apoio para manter o tema na agenda e na memória, então certos excessos ideológicos, propagandísticos e estéticos limitam a adesão, dado que muitas pessoas questionam se efectivamente se revêem em certo tipo de mensagens que estão ancoradas em radicalismos opostos aos que são denunciados.
"também pode ser a resistência ao unilateralismo bélico".
Pois pode. Mas então não façam cartazes daqueles, porque o que transparece não é nada disso. E sabes que a estética é tudo, mas tudo menos inocente aqui, e a lógica do 'desenrascanço' não explica grande coisa.
"Quanto à «resistência», que vem no cartaz, suponho que seja a resistência à ocupação, nos casos mais mediáticos pessimamente feita, com guerra civil à mistura a complicar, daí alguma dificuldade em compreender a mensagem".
De acordo. Podemos protestar contra o facto de a "ocupação" ter ocorrido, certo, mas a questão mais complicada é: o que fazer agora? O problema ao nível decisional não é tanto o passado, sobre o qual estamos de acordo quanto à sua dimensão catastrófica, mas o futuro. Acabar com a "ocupação" sem saber o que se passa a seguir, que é a questão imediata que se coloca, não é solução. E às vezes, ouvindo algumas das pessoas associadas a essas iniciativas, parece que é. E alguma irresponsabilidade, misturada com o anti-americanismo primário do costume (ou de onde pensas que essa conversa da "resistência" vem?), por vezes afasta-me delas.
"O problema ao nível decisional não é tanto o passado, sobre o qual estamos de acordo quanto à sua dimensão catastrófica, mas o futuro."
Mas trata-se de efemérides para relembrar estes 4 anos, não para pensar o futuro em concreto. Para isso serve a ONU, os democratas dos EUA, etc.. E o consenso europeu é esse mesmo: o de ser o concerto das nações e seus órgãos próprios a procurar as soluções.
Não se pode pedir a um momento de reflexão que faça tudo, relembre o passado, o presente e o futuro, e tudo bem feito, com os consensos máximos salvaguardados, etc.. Isso não existe no mundo real.
Além disso, os consensos que se devem procurar não têm necessariamente que implicar a descaracterização do discurso de ninguém.
Sejamos razoáveis: um programa de documentários sobre a guerra no Iraque vale por si, independentemente do título que se aponha ao ciclo e da estética do cartaz. O debate, esse tinha pessoas de vários quadrantes. O concerto idem.
"Acabar com a «ocupação» sem saber o que se passa a seguir, que é a questão imediata que se coloca, não é solução."
Esta lógica é completamente absurda: então não se pode dizer que se é contra aquela guerra e que se é contra aquela ocupação, tem que se ter as soluções concretas para o pós-ocupação (isso num ciclo de cinema era o quê? e no título do ciclo?), quando o consenso europeu, da esquerda e das forças progressistas é que as decisões sejam negociadas segundo os princípios da democracia e da diplomacia multilateral?
Essa lógica levada ao limite significaria que sempre que os cidadãos se quisessem manifestar ou propor a reflexão sobre qualquer assunto tinham que ter o quadro perfeito, reflectindo sobre o passado, presente, futuro, com soluções concretas, título consensual maximalista, etc., etc.
Isso não é pedir demais a simples iniciativas a favor da paz?
E porque é que quem tem um discurso supostamente menos radical não vem para o espaço público a propor alternativas?
Bom, perante a tua retórica parece que eu era contra a realização do evento...Pensei apenas que podia fazer alguns comentários laterais e não necessariamente elogiosos sobre o evento, sem que a sua existência tivesse que ser imediatamente colocada em causa...
"Essa lógica levada ao limite significaria que sempre que os cidadãos se quisessem manifestar ou propor a reflexão sobre qualquer assunto tinham que ter o quadro perfeito, reflectindo sobre o passado, presente, futuro, com soluções concretas, título consensual maximalista, etc., etc."
Daniel, estás a levar ao limite o que não era para levar ao limite e a caricaturizar o que eu disse. Disse apenas que as iniciativas devem ser maximalistas; por isso devem evitar certos excessos ideológicos que jogam contra as próprias. Não disse para substituir os concertos por um tratado colectivo em relações internacionais; simplesmente, quando as pessoas se associam a determinados eventos podem ter em conta o que as pessoas que estão ao lado delas pensam em assuntos para além do que as leva a estar ali reunidas. Eu pelo menos penso. E não transformo isto em nenhuma base filosófica do militantismo político, é apenas uma intuição pessoal.
"E porque é que quem tem um discurso supostamente menos radical não vem para o espaço público a propor alternativas?"
Talvez porque ninguém saiba exactamente o que fazer, tal é o pântano actual...
Fui assistir ao concerto, não vi nenhum excesso ideológico, radicalismo ou militantismo político em palco. Talvez porque seja difícil superar os excessos de quem promoveu essa guerra... Só lamentei a ausência de vozes femininas no coro geral, em palco (na platéia, estavam todas lá). E se ninguém sabe o que fazer, pelo menos sabemos que o que foi feito até agora está muito errado!
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