segunda-feira, 12 de março de 2007

Política para um país: linhas de força


Faz hoje dois anos que o actual governo tomou posse. É um bom pretexto para reflectir e propor algumas linhas para o desenvolvimento sócio-económico do país. Este governo lançou dois programas que em meu entender são estratégicos: o Programa Nacional para a Política de Ordenamento do Território (PNPOT) e o Plano Tecnológico (PT). São duas excelentes iniciativas que deveriam enquadrar e orientar todos os outros programas sectoriais.
1. Uma verdadeira estratégia para a sociedade de informação requer não só uma revolução tecnológica (em termos de meios utilizados, mas, sobretudo, de usos e procedimentos), mas uma mudança estruturante no ordenamento do nosso território. A grande novidade do PNPOT é a aposta nas cidades e numa rede urbana policentrada. As cidades (grandes e médias) são nódulos aglutinadores de desenvolvimento, urge dotá-las dos mecanismos tecnológicos e, principalmente, de capital humano necessário para dinamizar diferentes eixos de inovação. O PT deveria assumir esse papel e articular as suas áreas estratégicas tendo por base esses clusters territoriais de desenvolvimento. Não é isso que acontece! Quanto a mim, seria fundamental congregar as linhas orientadoras do desenvolvimento tecnológico e do ordenamento territorial.
2. Para tal, é determinante que a política de reestruturação do Ensino Superior se integre objectivamente nestes dois programas. Por exemplo, não faz sentido, apontar-se hipóteses de fusões entre instituições (universitárias e politécnicas) tendo somente como perspectiva a realidade circunscrita desses estabelecimentos de ensino. Não é possível incentivar os tais clusters de inovação territorial sem uma articulação efectiva com a política do ensino superior.
3. Para além do plano nacional, está contemplado na lei de bases do ordenamento do território a definição e execução dos Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT). Como já referi noutra ocasião, entendo que a operacionalização destes planos só faz sentido em articulação com uma efectiva reforma na administração regional do país. Isto é, torna-se necessário pensar num modelo viável de regionalização que aponte claramente para a lógica definida no PNPOT.
4. Recapitulando: entendo que uma verdadeira estratégia de desenvolvimento para o país deverá ser aglutinada e organizada a partir de quatro planos essenciais: o PNPOT, o PT, a Reforma do Ensino Superior e a Regionalização. Parcelarmente algumas coisas estão a ser feitas, mas falta decididamente a visão do todo. Ou seja, uma visão do PAÍS.

6 comments:

Hugo Mendes disse...

Renato, acho que essa conclusão de faltar a "visão do Pais" é despropositada e vai contra o que escreveste no post (e só la está para colar com o que escreveste na nossa polémica anterior). O que podes concluir a partir do que escreveste é que há problemas, que acontecem amiude nestas politicas intrsectoriais, de coordenação entre planos e dispositivos de intervenção. É muito diferente dizer que "não se sabe o que se que fazer do país" de dizer "estamos à procura dos meios de integrar tantos planos diferentes". A segunda crítica até pode ser certeira - embora acho que isso que dizes sobre junção dos politécnicos com a universidades apenas tomar em conta a realidade dos estabelecimentos de ensino me parece algo injusto, mas ok -, mas é bastante diferente da primeira.

Hugo Mendes disse...

Alguém aqui já tinha falado em reacções epidérmicas...(ao menos arranja outra metáfora, pá, que essa do coelho eu gosto bastante dela).

Limitei-me a dizer que a conclusão do post não deriva do que lá está escrito. Uma visão do país pode ter várias "linhas de força", que é aliás muito curiosamente o subtitulo do teu post. A dificuldade é a maior parte das vezes articular essas linhas de forma coerente. E também já tinha dito que acho que tudo isto deriva do excesso de planos deste Governo.

Já escrevi sobre educação, qualificações e sobre a sociedade do conhecimento lá atrás. E nem foi nada retórico, teve uma data de números e estatísticas. Aliás o onde não faltaram em números, faltaram os comentários e a discussão.

Hugo Mendes disse...

"A utilização de números de um ou outro quadro tirados avulso da cartola pode cair na mais refinada retórica".

Ora essa...sinceramente gostava que fosses ao post sobre qualificações e identificasses onde está a "refinada retórica".

"Desculpa, mas nestas várias discussões não avançaste uma única proposta".

Sabes que eu não gosto de reiventar a roda, e não me parece que o objectivo seja aqui fazer o ranking de quem fez mais propostas: eu não estou nessa corrida. No que toca a este teu post, não percebi a tua proposta, a não ser que os planos (com os quais pareces concordar) - as tais "linhas de força" - devem ser melhor integrados. Se é isso, eu aplaudo. Apenas discordei do conclusão do post em relação ao seu corpo (já expliquei porquê: pode haver uma visão/política do país contendo várias linhas de força, cujo desenvolvimento pode ser melhor ou pior articulado). Mas se era esse o objectivo do post, não descortinei uma única proposta inovadora. E para os meus parâmetros - dado que eu não estou na tal corrida -, está bem assim.

Hugo Mendes disse...

"mas também não faz muito sentido numas ocasiões alegar a ausência de propostas concretas e noutras achar que elas estão a mais."

Onde escrevi que elas estão a mais? Apenas disse noutro local que elas deviam ter o trabalho de casa feito para não choverem no molhado. É bem diferente. Neste caso fizeste o trabalho de casa. Só discordei da conclusão (e basta veres o título do teu post para concordares comigo).

"lançar alguns eixos para aquilo que entendo dever ser a tal perspectiva estratégica"

Ora tiraste-me as palavras da boca. Foi precisamente o que os meus posts sobre qualificação procuraram fazer - e não lançar propostas no vazio. Antes das propostas, convém fazer os diagnósticos. E ainda estou à espera da prova relativa à "retórica refinada".

Daniel Melo disse...

Concordo com as propostas do Renato, bastante consolidadas, e é óbvio que é fulcral haver uma estratégia global de desenvolvimento para o país. Não basta haver planos, tem que haver uma filosofia e coerência por detrás a ligá-los.
O Renato pensou-os e apresentou uma perspectiva coerente, progressista e que faz sentido.
Eventualmente passível de aperfeiçoamentos, ou não, o que é secundário, pois à partida este já é um bom começo.
Por isso, não percebo esta desvalorização sistemática pelo Hugo de tudo o que seja revelador dalguma falha do governo, mesmo que ad laterae, sem cuidar de saber se faz ou não sentido. Ou, então, de propor alternativas.
Se é para se debater, então que sejam propostas, não tem que se inventar nada, apenas avançar propostas sérias e argumentadas.
Fui rever as do Hugo relativamente às qualificações: soube-me a pouco, 2 posts são ilustrações sem qualquer comentário, outro é uma diatribe contra os sindicatos, o 4.º é a dizer que o problema em Portugal é a sub-qualificação e não a sobre-qualificação, como se tudo tivesse que ser dualista (e novamente para afastar uma nuvem que possa fazer sombra sobre o governo, no caso a dos licenciados desempregados).

Hugo Mendes disse...

O debate já entrou num nível pessoal, portanto é melhor dá-lo por encerrado. Mas sobre essas promessas eleitoriais - sobre as quais também já disse o que pensava -, se as pessoas forem honestas lembram-se, se quiserem, que elas foram feitas antes - repito: antes, não depois - do Banco de Portugal anunciar os números do défice público de (salvo erro) 6,7% do PIB no fim de 2005/início de 2006. Depois de conhecidos estes valores, qualquer margem de manobra para grandes medidas estatais - ainda por cima criar emprego público - desapareceu.
Achei que esta questão era irrelevante para o debate porque a ideia do Daniel era discutir políticas sectoriais, exequíveis em função da margem de manobra financeira existente.
Já nem vale a pena dizer pela enésima vez (sem que ele regressasse a esta questão) que não critiquei arbitrariamente o post do Renato, mas tentei dar-lhe uma coerência que ele próprio não lhe conferiu apenas porque queria terminar dizendo que não havia uma "visão" para o pais só porque há vários "planos" (quando ele próprio defende que pode haver uma "política" com várias "linhas de força").
Mas creio que isto - que era o objectivo exclusivo e único do meu comentário - também deixou de interessar desde que se pessoalizou o debate.