sexta-feira, 2 de março de 2007

Carreira docente universitária à procura do Aladino



Muito se tem falado, aqui, e por toda a comunicação social de professores do Ensino Secundário. Pouco se tem falado de professores do Ensino Superior. Estive a ver no Estatuto da Carreira Docente Universitária (mais conhecido por ECDU) em vigor que quem assina um contrato como assistente convidado, o mesmo é de um ano, renovável por 3, e assim por diante, ou seja, de novo renovável por 3. Depois do Doutoramento, se ainda estiver em vigor a mesma legislação, é possível uma contratação, mas como Professor Auxiliar. Sabemos que isto é practicamente impossível. Os professores convidados, ou são "convidados" a sair e a esperar eternamente outro convite, ou a serem professores convidados toda a vida ( a 20, 30, 40, e, se for afortunado, a 50, 60, 70, 80, 90 ou 100%). Se, por acaso, algum professor do ensino superior tiver a sorte de ter uma lâmpada fundida, e ao colocar a nova, lhe aparecer o Aladino, então poderá, talvez, vir a ser contratado sem ser como convidado, isto é, dentro da carreira. Uma vez Professor Auxiliar, de acordo com a legislação em vigor, tem de ser avaliado mediante um Relatório que tem de fazer ao fim de cinco anos para ser votada a nomeação definitiva. Claro que o Relatório, acompanhado por 2 exemplares de cada peça curricular, tem de ser entregue cerca de 3 meses antes da data dos 5 anos. Tal significa que, após o doutoramento, os docentes universitários de carreira se têm de esfalfar a produzir currículo para, ao fim de 5 anos, conseguirem a nomeação definitiva. Entretanto, as pessoas são assoberbadas com tarefas de carácter administrativo e pedagógico e têm mesmo de produzir currículo para não perderem o emprego ao fim de 5 anos. Na impossibilidade de escrever um livro, escreve-se artigos e tenta-se publicá-los, sem ver um tostão (ou um cêntimo, nos tempos que correm). No caso de perderem o emprego, ficam até com um *bónus suplementar*: não têm direito ao subsídio de desemprego, o que é uma grande maçada, pois se se fundir outra lâmpada, como é que um professor do Ensino Superior vai conseguir ir até ao IKEA?
Imagem do filme da Disney Alladin.

3 comments:

Anónimo disse...

coitadinhos...
A chave da politica esta' no incentivo a ter doutoramento, que se baseia na demografia do professorado universitario e na passagem 'a reforma de grande parte dos quadros nos proximos dez anos.
Nao me parece que a politica va funcionar sem se mudar a estrutura hierarquico-cientifica das universidades portuguesas (basicamente, o modelo alemao de um professor catedratico - uma especialidade - com escravos por baixo) mas isso e' outra historia..

vallera disse...

O Tiago tem razão no que concerne à reforma do quadro, e à mudança das estruturas "hierarquico-cientifica das universidades portuguesas". Mas acha que professores universitários contratados a 20%, sem ajuda de custos, porque vivem numa cidade e leccionam noutra, e, se forem para a rua, não terem direito a subsídio de desemprego mereçam apenas um irónico "coitadinhos"?

Anónimo disse...

Tem razao: eu estava a ser mauzinho.
O sistema universitario portugues depende muito de poder comprar trabalho intelectual a precos baixos. O Estado controla quase monopolisticamente a procura de trabalho neste sector. O crescimento de pos-graduados (mestrados e doutoramentos) nos ultimos dez anos (financiado em grande parte pela UE) nao serve a ninguem melhor do que ao empregador, que por sua vez tambem tem influencia na oferta.
Isto para dizer que nao me parece que hajam incentivos suficientes para o estado tentar mudar a estrutura universitaria. A nao ser que haja uma razao maior politica.