quinta-feira, 1 de março de 2007

Na baliza eu era o maior

Quando era puto, naqueles tempos quase imemoriais em que as crianças passavam horas na rua a correr atrás de uma bola, a minha posição predilecta era a de quarda-redes. Contávamos três passos, de uma pedra a outra, e estava a baliza montada pronta para o desafio. Joguei muitas vezes contra o Sporting. Na baliza oposta jogava o Damas e eu, claro, só podia ser o Bento. Durante todo tempo que durava a partida (umas vezes eram apenas breves minutos, noutras jogávamos até anoitecer) encarnava a figura do guarda-redes do Benfica. Imitava-lhe os voos felinos e tentava moldar-me ao seu estilo elegante. Empenhava-me de tal modo neste exercício performativo que, em alguns casos, perdia o fio ao jogo e acabava por deixar entrar um golo.
Tive a sorte de assistir, não no peão mas na bancada de sócios (felizardo!), a alguns jogos da equipa maravilha dos anos 80: Humberto Coelho, Chalana, Nené, Pietra, Shéu, os irmãos Bastos, Carlos Manuel… Lembro-me particularmente de dois jogos, a final da Taça UEFA com o Anderlecht que infelizmente perdemos, e um jogo contra o Sporting num ano (para aí entre 1981 e 1983) em que o Benfica ganhou o campeonato (velhos tempos!). Neste jogo recordo-me de um penalty que foi marcado contra a nossa equipa. O marcador de serviço era o Jordão, um excelente ponta-de-lança que raramente falhava. Mas naquele jogo o Bento conseguiu defender, a ovação foi estrondosa. O grandioso Estádio da Luz dobrou-se aos seus pés (ou melhor, às suas mãos de ouro). Nesse dia decidi que iria ser guarda-redes do Benfica. Ainda não perdi a esperança. Até sempre BENTO!

1 comments:

Anónimo disse...

(suspiro) a mim chamavam-me Bento na escola primária para entrar comigo, eu que nunca joguei futebol a não ser obrigada.