Os meus putos ainda têm a sorte de ter duas bisavós. São mulheres extraordinárias que viveram para criar os filhos, os netos e ainda dão o melhor de si para os bisnetos. Mulheres de força cuja vida lhes foi corroendo e enrugando o corpo. O tempo entortou-lhe as mãos e os dedos, mas, apesar disso, ainda conseguem ter uma destreza espantosa: tudo lhes sai das mãos com sabedoria e naturalidade. São mulheres que viveram grande parte da vida amordaçadas pelos maridos e, antes, pelos pais. São mulheres que depois da chegada da liberdade já não se conseguiram libertar. Artífices do silêncio que construíram mundos e esperanças no íntimo segredo. A elas devemos muito… a estas mulheres de silêncio forte.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comments:
Num dos meus regressos a Lisboa uma das coisas que me saltou à vista foi a dignidade das velhinhas. Lembro-me de andar a passear numa tarde de sol e não reparava em mais nada senão na dignidade dessas senhoras. Senhoras que se parecem com a descrição que fazes das bisavós. Vê-se à distância que já lhes custa a andar, mas não se queixam, depois de tudo aquilo por que passaram isso é o menos. Muitas têm seguramente maridos em casa que se queixam por muito menos, e são elas que tratam deles. Mas aquela expressão de quem suporta tudo e no fim fica só com a única coisa que lhes resta - a dignidade, essa não conseguiram tirar-lhes - ficou-me gravada como uma das imagens mais fortes de Lisboa. Claro que isto é a minha visão parcial e distorcida, Lisboa não é para aqui chamada, mulheres assim há em toda a parte. O que importa afinal são aquelas mulheres "de silêncio forte".
Também nós nos revemos nas palavras do teu post assim como no comentário anterior, o que nos enche de orgulho de ser mulheres, por um lado, mas também nos lembra que por haver esse "silêncio forte" é que os homens a nosso lado tantas vezes podem gozar do privilégio (??!!) de permanecerem crianças toda a vida. O mundo andava mais depressa se todos tós tivéssemos que crescer quando é chegado o tempo, e aí chamo maldita à mansidão das mulheres.
...isto agora não tem nada a ver, mas regressa uma mulher à vida depois de ter estado doente para dar com uns planos de construção de uma barragem no Tua, ao que parece já definitivos apesar dos arremedos de consulta pública e análises de impacto ambiental e etc... Mas isto nunca muda ou se muda é para pior? Começo a ficar desesperada com a irresponsabilidade, falta de senso e seriedade de quem nos governa. Afinal se calhar até tem alguma coisa a ver com o post anterior, se calhar as mães e esposas destes senhores - pois é de senhores que se continua a tratar - são todas mulheres muito mansas.
Enviar um comentário