Caro Hugo, não parece certo pores na minha boca uma série de grosserias que não disse. Disparas em muitas direcções, mas não acertas em cheio em nenhuma. Vamos ver se nos entendemos, vou tentar clarificar a minha posição já que estás com alguma dificuldade em discutir argumentos e partes de pressupostos estereotipados que não me incluem.
1. Não tenho uma posição centralista do desenvolvimento económico. Entendo que em Portugal o Estado é excessivo e em muitos casos acaba por ser um agente perverso de retrocesso. Todavia, penso que o Estado é um agente central não para deter o controlo sobre a economia, mas para lançar dinâmicas estruturais de desenvolvimento que a prazo deverão ser absorvidas e apropriadas pela iniciativa privada.
2. Não culpo o Estado e os governos de tudo, mas acho que estes têm uma responsabilidade acrescida face a outras instituições e organizações.
3. Entendo que em Portugal a concertação social não funciona, principalmente porque os diversos parceiros, incluindo o Estado, não cumprem os acordos definidos. E se o Estado falta, tudo o resto vem por aí abaixo. Muito dos problemas gerados na economia e sociedade portuguesa devem-se a um Estado não cumpridor em praticamente todos os sectores.
4. Nunca foi meu lema assobiar para o lado e atirar umas bocas. Pelo contrário, sempre entendi que a única crítica pertinente é a que tem efeitos construtivos. E nisso dou-te razão, um dos males da esquerda é o de não conseguir propor medidas concretas de acção e de ficar, na maior parte dos casos, numa postura de não querer “sujar as mãos”.
5. Portugal ainda não encontrou o seu caminho de desenvolvimento precisamente porque muita gente se encosta e tem como lema de vida salvar o pêlo, tanto à direita como à esquerda.
6. Considero que tem havido uma certa incapacidade em pensar o modelo de desenvolvimento a partir da especificidade da realidade portuguesa. O modelo da sociedade de informação é um caminho possível, mas questiono se ele poderá ser um modelo aglutinador para Portugal como foi para a Finlândia.
7. A economia portuguesa é composta por uma diversidade de sectores tradicionais que urge modernizar e tem outros que ainda estão por explorar. Assim para além dos clusters mais imediatos: o turismo, o vinho, a cortiça, a industria têxtil e do calçado, etc. Temos outras potencialidades: as energias renováveis (uma boa aposta deste governo), a agricultura biológica, algumas áreas científicas em que podemos ser pioneiros, e muitos outros.
8. Neste sentido, o nosso modelo de desenvolvimento deveria articular esses vários clusters (os mais tradicionais e os recentes), tendo por base uma política de desenvolvimento diferenciadora e não uniformizadora em torno de um eixo polarizador. Ou seja, se quiseres, deveríamos pensar numa sociedade de informação a diferentes velocidades, mas todas a caminhar para sua modernização interna.
9. Essa visão diferenciadora deve ser implementada em parte pelo Estado, mas não como uma imposição centralizadora. Pelo contrário, o Estado deve organizar a sua acção enquanto mediador-decisor.
10. Essa mediação passa por encontrar ou gerar outros parceiros (para além das associações patronais e dos sindicatos). Por exemplo, seria interessante apostar-se nas Comissões de Coordenadoras e atribui-lhes um estatuto mais autónomo em relação ao Estado. A regionalização é uma matéria que urge debater!
Poderia continuar, mas não tenho mais tempo. Ficará para próximos posts!
1. Não tenho uma posição centralista do desenvolvimento económico. Entendo que em Portugal o Estado é excessivo e em muitos casos acaba por ser um agente perverso de retrocesso. Todavia, penso que o Estado é um agente central não para deter o controlo sobre a economia, mas para lançar dinâmicas estruturais de desenvolvimento que a prazo deverão ser absorvidas e apropriadas pela iniciativa privada.
2. Não culpo o Estado e os governos de tudo, mas acho que estes têm uma responsabilidade acrescida face a outras instituições e organizações.
3. Entendo que em Portugal a concertação social não funciona, principalmente porque os diversos parceiros, incluindo o Estado, não cumprem os acordos definidos. E se o Estado falta, tudo o resto vem por aí abaixo. Muito dos problemas gerados na economia e sociedade portuguesa devem-se a um Estado não cumpridor em praticamente todos os sectores.
4. Nunca foi meu lema assobiar para o lado e atirar umas bocas. Pelo contrário, sempre entendi que a única crítica pertinente é a que tem efeitos construtivos. E nisso dou-te razão, um dos males da esquerda é o de não conseguir propor medidas concretas de acção e de ficar, na maior parte dos casos, numa postura de não querer “sujar as mãos”.
5. Portugal ainda não encontrou o seu caminho de desenvolvimento precisamente porque muita gente se encosta e tem como lema de vida salvar o pêlo, tanto à direita como à esquerda.
6. Considero que tem havido uma certa incapacidade em pensar o modelo de desenvolvimento a partir da especificidade da realidade portuguesa. O modelo da sociedade de informação é um caminho possível, mas questiono se ele poderá ser um modelo aglutinador para Portugal como foi para a Finlândia.
7. A economia portuguesa é composta por uma diversidade de sectores tradicionais que urge modernizar e tem outros que ainda estão por explorar. Assim para além dos clusters mais imediatos: o turismo, o vinho, a cortiça, a industria têxtil e do calçado, etc. Temos outras potencialidades: as energias renováveis (uma boa aposta deste governo), a agricultura biológica, algumas áreas científicas em que podemos ser pioneiros, e muitos outros.
8. Neste sentido, o nosso modelo de desenvolvimento deveria articular esses vários clusters (os mais tradicionais e os recentes), tendo por base uma política de desenvolvimento diferenciadora e não uniformizadora em torno de um eixo polarizador. Ou seja, se quiseres, deveríamos pensar numa sociedade de informação a diferentes velocidades, mas todas a caminhar para sua modernização interna.
9. Essa visão diferenciadora deve ser implementada em parte pelo Estado, mas não como uma imposição centralizadora. Pelo contrário, o Estado deve organizar a sua acção enquanto mediador-decisor.
10. Essa mediação passa por encontrar ou gerar outros parceiros (para além das associações patronais e dos sindicatos). Por exemplo, seria interessante apostar-se nas Comissões de Coordenadoras e atribui-lhes um estatuto mais autónomo em relação ao Estado. A regionalização é uma matéria que urge debater!
Poderia continuar, mas não tenho mais tempo. Ficará para próximos posts!
11 comments:
Renato, desculpa, mas também faz parte da politica do Humpty Dumpty nunca nos reconhecermos nas críticas...:)Não acertei em nenhuma?...Eu apenas aponto os teus pressupostos, de forma bastante clara e transparente. Se depois de os veres expostos nao gostas deles e não te reconheces neles, não tenho a culpa.
"O modelo da sociedade de informação é um caminho possível, mas questiono se ele poderá ser um modelo aglutinador para Portugal como foi para a Finlândia."
Ainda bem que tens uma atitude construtiva. Mas se a "sociedade de informação" nao é o caminho, continuo ainda e sempre, desde o início desde debate, à espera das tuas propostas; e depois de ver em que é que elas são realmente distintas do que tem sido feito e do que se pretende vir a fazer. É que agora andar prái dizer que há "incapacidade de pensar a sociedade portuguesa" é muitíssimo facil.
Já agora, quando se fala de sociedade da "informação" ou "conhecimento" - para evitar equivocos -, não estamos a pensar apenas em telemoveis e computadores e novas energias. Se queres falar da agricultura biológica ou do vinho ou da industria textil, a sua sobrevivência e sucesso dependerá sempre de pessoas mais qualificadas, da implantação de novas tecnologias, e da introdução de métodos de gestão modernos. Isto faz parte da "sociedade da informação", mesmo que estejamos a tratar de sectores tradicionais. É por isso que não vamos imitar a Finlândia naquilo que produzimos, mas usar o upgrade tecnoeconómico para inovar e produzir mais e melhor nas áreas onde tenhamos vantagens comparativas. E, já agora, em nenhum momento disse que o obejctivo era copiar a Finlândia; há boas práticas instituicionais e políticas para as quais possamos olhar, mas os países são tão diferentes - a começar pelo comportamento dos parceiros sociais e pelos níveis de qualificação da população - que dizer que "vamos fazer como a Finlândia" não faz sentido. Simplesmente trata-se de saber se queremos seguir uma via socia-democrata ou (neo-)liberal. A Finlândia é um exemplo do primeiro; o Reino Unido na era Thatcher foi um exemplo do segundo.
Hugo, eu avanço algumas propostas. Da tua parte é que ainda não vi nenhuma, para a além da verborreia contra os sindicatos, a esquerda e diabo a quatro.
Eu gosto do que vem escrito do ponto 7 para a frente; agora imagino que quando isto vem escrito em programas oficiais já passa a ser "conversa da tanga". É estranho que se diga que "ninguém pensa o pais" e depois propõe-se coisas que estão escritas em dezenas de documentos oficiais.
"Da tua parte é que ainda não vi nenhuma".
Háuma diferença, Renato: é que não fui eu disse que "ninguem pensa o pais". Eu, pelo contrário, acho que muita a gente o pensa e, acredites ou não, está em lugares de poder a tentar mudá-lo.
Mas se quiseres posso continuar a falar de sei (nao gosto de falar do que faço pouca ideia). Podemos (continuar, dado que já dei o pontapé de saida) a falar de problemas e políticas públicas na educação, qualificação, inovação ou saúde.
De qualquer forma há uma coisa que deixei passar lá atras e que nao compreendo. Se a estratégia de desenvolvimento do pais é terceiro-mundista, baseada em obras públicas e no uso de trabalho nao qualificado, gostava que em explicassem como é que este o único ministério que este ano viu o seu orçamento crescer, e ainda por cima no valor de 63%, foi o da ciência.
Eu não disse que ninguém pensa o país. Há muita gente a pensar o país. O problema é definir, construir um modelo de desenvolvimento adequado ao país.
Ok, aceito o desafio. A partir de agora (não de hoje, por favor...) debatemos com base em propostas concretas (mas vai com calma queeu não tenho a tua vida :))
Renato, não precisamos de começar a enunciar propostas a vulso. Podemos reflectir sobre dominios particulares, com tempo e sobretudo falando com conhecimento de causa do que está a ser colocado em prática por este Governo. Se às vezes pareço incomodado é porque oiço sistematicamente as pessoas dizerem "devia-se fazer isto, e isto e isto...!", e depois, olhando com atenção, ver que essas coisas são quase sem tirar nem por o que se está a fazer - ou a tentar fazer: entre o que se quer e o que se consegue fazer pode ir um oceano de distância - a nível político nesta legislatura.
Propostas e discussão sim, mas com o trabalho de casa feito, que é para não estarmos a chover no molhado e a passar injustos atestados de incompetência.
Ok! É justo.
Um abraço, pá!
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