domingo, 4 de março de 2007

Sobre a "mobilidade intelectual"

Este discurso miserabilista sobre a empregabilidade dos licenciados, que o Hugo refere nos posts anteriores, é um reflexo claro da crise do modelo universitário português. E a solução não é a que muitos apregoam.

Há um ano, o presidente da PT-Inovação tentou convencer uma audiência de investigadores portugueses nos Estados Unidos que o problema da universidade portuguesa residia na desadequação da formação dos engenheiros, um exemplo que lhe era mais próximo. Para o responsável pela área de inovação de uma das maiores empresas portuguesas, os engenheiros formados nas universidades portuguesas não são suficientemente especializados. Durante dois dias, muitos tentaram mostrar-lhe que o problema era o oposto. E nem a presença, no mesmo painel da conferência, do responsável pela inovação da Microsoft serviu para ilustrar que o excesso de especialização conduz, inevitavelmente, a uma menor capacidade de adaptação às mudanças de paradigma.

Responsável da Microsoft esse que tem um Ph.D. em biologia. Repito: um indivíduo com um Ph.D. em biologia é o responsável pelo sector de inovação da maior empresa de software do mundo. A isto, pode chamar-se "mobilidade intelectual". A outra mobilidade de que ninguém fala e que a universidade portuguesa está longe de facultar aos seus alunos, quando os obriga a frequentar disciplinas de uma só área científica.

2 comments:

Renato Carmo disse...

João, tens razão no que dizes. Mas cuidado, não te deixes levar pela mobilidade... é que já levas um mês de avanço.

João Caetano disse...

Epá, nem tinha reparado. Estou mais habituado a escrever "mês/dia/ano".